Cabral chama bombeiros presos de "vândalos" e troca comando da corporação
O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), chamou neste sábado (04) de "irresponsáveis" e "vândalos" os bombeiros que invadiram na noite de ontem (03) o quartel da corporação, no centro da cidade. Cabral anunciou o coronel Sergio Simões como novo comandante do Corpo de Bombeiros e subsecretário de Defesa Civil do Estado, no lugar do coronel Pedro Machado.
Veja momento em que Bope invade quartel dos bombeiros no Rio
"Esses 440 irresponsáveis vão responder a processos administrativa e criminalmente. A abertura do processo disciplinas já foi determinada, a criminal cabe ao Ministério Público", disse ele após passar mais de quatro horas reunido com diversos secretários, além da procuradora geral do Estado, Lúcia Lea, e o comandante-geral da Polícia Militar, Mario Sergio Duarte.
Ele criticou ainda o argumento usado pelos bombeiros para protestar, que são os baixos salários. "Não é verdade que é o pior salário do Brasil. E mesmo que fosse, não justificaria a invasão. Já há um programa de recuperação salarial dos bombeiros na Alerj. Se ainda não é a ideal, é a melhor do Estado do RJ até agora", disse Cabral.
Os bombeiros estão em campanha salarial há um mês. Eles reivindicam aumento salarial de R$ 950 para R$ 2.000, além de melhorias em suas condições de trabalho. O governador também afirmou que a invasão é "inaceitável" e que não "negocia com vândalos".
"Foi uma atitude covarde, com uso de mulheres e crianças, me chocou profundamente. Houve desrespeito à hierarquia dessa instituição tão querida e respeitada que é o Corpo de Bombeiros. Nem vou discutir a irresponsabilidade política que está por trás disso. Já apagaram incêndio com mangueira furada em governos anteriores", afirmou.
Mário Sérgio Duarte, comandante-geral da Polícia Militar do Rio, afirmou que o uso da força não era de interesse do governo durante a ação. "Não nos interessava o uso da força, por isso tivemos uma extensa negociação. [...] Nossa preocupação era muito grande com crianças e mulheres. Aquele grupo dizia que iria reagir de toda forma possível a qualquer ação nossa, então havia um cuidado muito grande. Havia notícia que havia arma de fogo entre eles. A preocupação é de que alguns tivessem armas. Ouvimos alguns disparos na madrugada. Apreendemos um bombeiro com uma pistola. Tinham armas letais. Se essas armas foram levadas, vamos fazer apuração," afirmou.
Invasão
A informação inicial era de que cerca de 600 bombeiros foram presos após invadirem o quartel central, no centro do Rio, foram transferidos - em um forte esquema de segurança - para a Corregedoria da Polícia Militar em São Gonçalo, na região metropolitana no Rio, na manhã deste sábado. No entanto, a PM confirmou posteriormente que são 439 presos. Ao chegarem, novamente eles fizeram uma formação com a palavra SOS, como já haviam feito quando ficaram detidos no pátio do Batalhão de Choque, no centro do Rio.
Os militares foram levados em 14 ônibus, que saíram em comboio do Batalhão de Choque. Antes, os bombeiros presos foram identificados e revistados. Das janelas dos ônibus, eles gritavam palavras de ordem e alguns exibiam a bandeira do Brasil. Na porta do batalhão, cerca de 150 pessoas com as esposas e filhos fazem uma manifestação em favor dos bombeiros presos. Policiais do Batalhão de Cavalaria e do Choque fazem um cordão de isolamento em frente à entrada do Batalhão e o clima é tenso.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, a quem os bombeiros são subordinados, os manifestantes responderão por invasão de órgão público, agressão a oficial e desobediência à conduta militar. O quartel do Corpo de Bombeiros foi ocupado na sexta-feira (4) à noite por cerca de 2.000 manifestantes, de vários batalhões da cidade, alguns acompanhados por familiares - mulheres e crianças - que reivindicam melhores salários. Durante quase cinco horas - das 21h às 2h - o comandante geral da PM, coronel Mario Sergio Duarte, esteve no local negociando com os invasores. Ao longo da madrugada, alguns bombeiros deixaram o quartel.
Policiais militares do Batalhão de Choque invadiram às 6h de hoje o quartel com o uso de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação. O comandante do batalhão de choque, Valdir Soares, ficou ferido durante a ação. Uma criança de dois anos foi atendida no hospital Souza Aguiar por ter inalado gás, mas já foi liberada.
O local foi invadido pelos fundos, por onde foram jogadas as bombas de efeito moral. Pouco depois os policiais do Batalhão de Choque entraram, ultrapassando uma barreira de carros dos bombeiros que haviam sido arrumados nas entradas do local pelos manifestantes para impedir a entrada da PM.
O porta-voz dos bombeiros havia dito que os militares ficariam no local até ter suas reivindicações atendidas. "Já estão dizendo que a polícia vai entrar e dar o primeiro tiro, mas nosso movimento é de paz. Queremos apenas um salário digno", disse o cabo Benevenuto Daciolo mais cedo.
Melhores salários
Há cerca de um mês os bombeiros estão em campanha salarial. Eles reivindicam um aumento de R$ 950 para R$ 2.000, além de melhorias em suas condições de trabalho. Durante a tarde de sexta os manifestantes haviam se reunido e feito um protesto em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), no centro do Rio.
Ônibus com bombeiros de várias cidades chegaram ao local durante o dia, aumentando o número de manifestantes. Por volta das 18h, o grupo saiu em caminhada pelas ruas do centro, até chegar ao quartel central.
Lá, os manifestantes abriram os portões de ferro e entraram, ocupando o pátio interno da instituição.
O comando geral do Corpo de Bombeiros informou na manhã de hoje que a rotina de atendimento à população está mantida. "Postos de salvamentos dos Grupamentos Marítimos, assim como quartéis, unidades de atendimento de urgências e emergências (SAMU/GSE) e serviços de socorro (combate a incêndios, salvamentos e desabamentos, etc) estão operando normalmente. Os substitutos dos bombeiros detidos pela Polícia Militar já assumiram seus postos desde o inicio da manhã na troca normal de plantões", diz nota do comando.
<< Página inicial