Aos vencedores, a mediocridade
MALU FONTES
Revista Metrópole, agosto de 2008, n. 14
Os novos ricos dividem o mundo em loosers e winners. Eles são os segundos, claro. O resto do mundo é formado pelos derrotados, but in english, para ficar mais arrogante e menos ofensivo. Embora o genial Nelson Rodrigues tenha dito que dinheiro compra tudo, principalmente um grande amor, há controvérsias: a mediocridade da maioria dos emergentes e de muitos ricos decadentes não conhece limites e nenhum dinheiro é capaz de ofuscá-la.
Não tem CQC, Casseta e Planeta ou Pânico que chegue aos pés, em termos de humor, do que o deleite da leitura das colunas sociais dos principais jornais de Salvador. Não se pode dizer que em boa parte do País o cenário seja diferente, com exceção dos grandes jornais de circulação nacional. Quem quer saber os tons e a textura do tecido brocado do vestidinho provinciano de noiva da filha de fulaninha? Se for para falar de riqueza, que atirem às massas um toque de Ilhas Gregas, ao invés dos costados de Itaparica, agora infestada de bandidos e arrastões.
Nada há de mais atrasado do que design de ventilador comum e conteúdo de colunas sociais locais. Certamente em Aracaju, Teresina ou Cuiabá não é diferente. Mas melhor olhar para o próprio rabo a dar pitaco no caldeirão de mediocridade dos outros. Aqui, impressiona a quantidade de provincianismo, gente feia como se linda fosse, botocada e mal vestida que povoa as colunas, tudo descrito como a última Coca Cola gelada do deserto, a bala que matou Kennedy.
O registro dos casamentos é uma coisa à parte. São notas com direito – dependendo da estatura econômica da família dos "nubentes"– à descrição da forma do bolo, à cor do vestido de todas as presentes. Se Joana das Couves passa um fim de semana em São Paulo, acaba de chegar de Buenos Aires ou dá um chazinho para as amigas da neta 15 anos em seu dúplex na Vitória, quem se importa? Alguns textos merecem entrar para um compêndio. Com Salvador pegando fogo em pleno sábado de carnaval, é veiculada uma notinha mimosa dizendo algo como: a cidade está às moscas. O que se queria dizer era que os bem nascidos e amigos da colunista estavam tomando outros rumos em busca de sossego. Daí a uma cidade às mocas, só caduquice para explicar.
Mais recentemente, um primoroso caso de cio coletivo feminino local foi noticiado em outra coluna. O texto era também de um machismo tabaréu sem noção. De um jeito involuntário, anunciava-se que todas as participantes de um determinado evento realizado em Salvador eram burras e taradas, um bando de desesperadas diante de um conferencista, típicas fãs temporãs dos Menudos. Tratava-se de palestra do economista Ricardo Amorim, um dos apresentadores do programa Manhattan Connection (GNT) e diretor do Banco WestLB para a América Latina, um dos maiores bancos alemães com atuação globalizada. A colunista informava que uma onda de progesterona da platéia feminina inflou o ar quando o tremendo gato tomou a palavra, incendiando a imaginação das mulheres (sic). O texto fechava-se com chave de ouro: além de tesudo, competente. Ou seja, as mulheres foram lá ver um macho caliente. Ficaram surpresas ao encontrar um cérebro anexado. O que se disse foi que nenhuma das mulheres estava lá porque gostava, entendia ou queria entender de economia, mas sim para atender a um apelo dos hormônios em furor, um desejo pelo falo – e não pela fala. As coisas demoram a mudar de jeito, mas não custa nada avisar aos publishers baianos que já é hora de oxigenar textos, imagens e repertórios das colunas sociais.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial