quarta-feira, 14 de março de 2012

Turquia é maior prisão do mundo para jornalistas

Aliado de longa data dos EUA, membro da Otan e democracia muçulmana, a Turquia é o país com o maior número de jornalistas presos no mundo – são 94, mais da metade deles da minoria curda, que busca mais liberdade desde que a república turca foi fundada, em 1923. A Turquia ultrapassou a China (com 27 profissionais presos) e o Irã (com 42). E o número pode ser ainda maior; o grupo Amigos de Ahmet Sik e Nedim Sener, que foi criado por jornalistas e leva o nome de dois jornalistas presos há um ano acusados de terrorismo, compilou uma lista detalhada de 104 profissionais de imprensa atualmente na prisão.
As detenções provocam um clima de medo entre jornalistas – ou a qualquer pessoa que ouse criticar o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Em artigo na New Yorker [9/3/12], o jornalista Dexter Filkins afirma que, em uma visita recente ao país, repórteres lhe contaram que editores alertam para não se criticar Erdogan. As detenções fazem parte de uma campanha maior do primeiro-ministro para censurar a oposição a seu governo. Desde 2007, mais de 700 pessoas foram presas, incluindo membros do parlamento, oficiais do Exército, reitores de universidades, presidentes de organizações humanitárias e proprietários de redes de TV.
Democracia de um partido só
A Turquia deveria ser uma democracia, mas o triunfo de Erdogan e seu partido em 2002 representou uma mudança notável na história política do país. A eleição colocou para fora uma minoria secular fortificada que governou o país desde sua fundação, e que geralmente suprimia a maioria de religiosos moderados turcos. Em seus nove anos no poder, Erdogan transformou a sociedade turca de muitas formas positivas. Mas, cada vez mais, a Turquia se parece com a Rússia de Vladimir Putin – um tipo de democracia de um partido só.
Em dezembro, Joel Simon, diretor-executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), escreveu para Erdogan pedindo que ele parasse de citar o relatório anual da organização como evidência de liberdade de imprensa na Turquia, o que Simon chamou de “perverso”.
O relatório, compilado no ano passado, dizia que oito jornalistas foram presos na Turquia por conta do trabalho. Mas Simon alega que o relatório estava incompleto, entre outras razões, pela extrema dificuldade de se verificar prisões no país, e que oito era o número mínimo confirmado.
Nas últimas semanas, ele enviou uma equipe à Turquia para revisar mais de 100 casos a fim de determinar o número real de jornalistas presos. “É muito cínico que Erdogan cite o CPJ como prova de liberdade de expressão”, declarou. “A Turquia é um país altamente repressivo”.