Marin prometeu a pais de torcedor morto na Bolívia renda já acertada em 2011
Martín Fernandez
O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, prometeu o que não podia ao afirmar publicamente que o amistoso entre Brasil e Bolívia, realizado anteontem (06), teria renda integralmente revertida para a família de Kevin Espada, morto em 20 de fevereiro, em Oruro, ao ser atingido por um sinalizador durante a partida entre Corinthians e San José.
A realização da partida foi acertada em novembro de 2011, entre o presidente da Federação Boliviana de Futebol (FBF), Carlos Chávez, e Marco Polo Del Nero, hoje vice da CBF, mas à época sem cargo na confederação.
No dia 12 de março, Marin afirmou no programa Encontro de Craques do canal BandSports: "A seleção irá jogar na Bolívia, graciosamente, com renda total para a família do menor". Esta seria, segundo ele, "a melhor maneira de prestar solidariedade à família". A declaração de Marin teve repercussão imediata na Bolívia. A Folha de São Paulo apurou que o presidente da FBF foi cobrado e telefonou para o colega brasileiro pedindo esclarecimentos.
Em razão disso, no dia 13 de março Marin encaminhou carta a Carlos Chávez na qual detalhou a divisão dos custos e deixou claro que "a renda da partida será em favor da Federação Boliviana de Futebol". Conforme a data do jogo se aproximava, o assunto voltou a ganhar espaço.
Sem nenhuma posição pública de Marin sobre o destino da renda da partida, no último dia 3, três dias antes do confronto, Chávez enviou uma longa carta ao presidente da confederação. O dirigente cobrou: "É preciso que o amigo deixe claramente estabelecido o verdadeiro motivo da honrosa visita de vossa seleção". E ameaçou: "Caso contrário, com muito pesar e a gratidão de sempre, nos veríamos obrigados a suspender o amistoso".
A réplica de Marin se deu no mesmo dia. "Reiteramos nosso ofício datado de 13 de março de 2013 [...] Qualquer outra notícia é inteiramente sem fundamento." Anteontem, dia do jogo, o encontro entre Marin e Chávez foi tenso. Os dois posaram lado a lado quando o brasileiro entregou ao boliviano uma carta na qual pede ajuda para a situação dos 12 corintianos presos em Oruro. Questionado por jornalistas brasileiros sobre a renda da partida, Chávez respondeu que este "é um assunto interno da federação".
Marin recuou em relação ao que havia dito no Brasil em março. "Não podemos fazer nada, somos convidados, os anfitriões são eles." A renda bruta - de R$ 1,06 milhão - ficará com a FBF. Pelo acordo entre as federações, as duas seleções vão se enfrentar de novo, no Brasil, em partida ainda sem data e local definidos. Texto publicado originalmente em 08 de abril de 2013, no jornal Folha de São Paulo, caderno Esporte.
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