O caixa dois do idioma
Folha de São Paulo, Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006 Clóvis Rossi
SÃO PAULO - O PT está fazendo caixa dois também com o idioma. Começou com "recursos não-contabilizados" para designar o caixa dois. Certamente para dar aos tolos a impressão de que não é "coisa de bandidos", como o próprio ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, designa o caixa dois. "Recurso não-contabilizado" também é coisa de bandido. Agora, vem Antonio Palocci e sua versão do caixa dois lingüístico. Mentira virou "imprecisão terminológica". Para quem já se encheu de acompanhar o escândalo e a catarata de mentiras do lulo-petismo, refere-se a sua mentira, em depoimento na CPI, sobre o uso do jatinho do empresário José Roberto Colnaghi. Fico esperando, ansiosamente, como os petistas preferirão ser chamados, no caixa dois da língua, em vez de "sem-vergonhas". Afinal, seu próprio presidente de honra, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o partido estava "desmoralizado", mas ninguém do PT protestou. Ao contrário, ficam correndo atrás de Lula para ser o candidato. Não têm, portanto, a menor vergonha de serem chamados de desmoralizados. Vai ver que na linguagem do lulo-petismo, desmoralizado é elogio. Ou "imprecisão terminológica". Em bom português, é cara-de-pau.
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Os descerebrados da teoria da conspiração deveriam incluir nela o ministro Luiz Fernando Furlan. Cada vez que vai ao exterior, produz uma frase que nem a oposição imaginaria utilizar. Primeiro, foi o reconhecimento de que o país estava "desanimado" (dezembro). Depois, que o Brasil perdera o momento internacional, atropelado por China e Índia (janeiro). Agora, devolve ao noticiário a questão etílica, ao dizer que Lula não bebe há 40 dias. Bom, e antes?, é a pergunta inevitável seguinte. Que, por sua vez, remete ao episódio Larry Rother, como bem lembrou Nelson de Sá em sua coluna de ontem. Parece inesgotável a capacidade do governo de fabricar trapalhadas.
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