domingo, 31 de agosto de 2008

Escola da boemia

MARCOS DIAS
70 ANOS DE TRADIÇÃO Ponto de encontro de políticos, artistas e intelectuais, o restaurante Porto do Moreira, no Largo do Mocambinho, comemora 70 anos de tradição, boa prosa e deliciosa comida caseira Naquela época, não havia táxis. Eram carros de praça. Naquela época, mulher não bebia nem fumava nos bares. Se fumasse... Naquela época, todo mundo conhecia todo mundo. Naquela época, as pessoas andavam nas ruas e não havia violência. A longevidade do restaurante Porto do Moreira, para além da excelência da comida caseira baiana, também pode ser explicada pelo próprio tempo. Os 70 anos do local, que serão comemorados no dia 7 de setembro, também são celebrados pelas memórias de uma velha Bahia que, com a licença de Caymmi, "está viva ainda lá".
Foram 37 anos sob o comando do português José Moreira da Silva, morto em 1975. Casado com a italiana Maria Figliuolo, eles veriam aquele lugar modesto, e que permanece assim até hoje, ganhar repercussão, desde que um sujeito inventou de escrever: "Ao completar-se um mês da morte de Vadinho, após assistir à missa, Dona Flor dirigiu-se ao Mercadinho das Flores, no Cabeça. Pela segunda vez, saía de casa desde aquele singular domingo, quando a morte golpeou no Carnaval. A primeira, fora para a missa de sétimo dia. Veio andando da igreja, por entre a curiosidade do povo. Do balcão do bar, Mendes a cumprimentou, e seu Moreira, o português do restaurante, com um berro advertiu a mulher, ocupada na cozinha: – Depressa, Maria, vem ver a viúva".
Boêmio, Vadinho gostava das coisas boas da vida assim como seu autor, Jorge Amado, que publicou Dona Flor e seus Dois Maridos em 1966. Certa vez, Jorge encomendou um bacalhau à portuguesa a Moreira e, na hora combinada de pegar o prato, ele chegou com uma bela vasilha de louça, uma peça antiga; Moreira propôs:
– Você vai levar o bacalhau com nosso prato, não vai me pagar, mas vai me dar essa vasilha. Jorge retrucou:
– Moreira, de português você não tem nada!
Mas o estabelecimento do local como ponto de encontro da boemia, artistas, intelectuais e autoridades se consolida desde os anos 40, quando se chamava Porto. Estrategicamente localizado, primeiro na rua do Cabeça e, a partir de 1966, no Largo do Mocambinho, também conhecido como Largo das Flores, na rua Carlos Gomes, o Porto se beneficiou com a proximidade dos Diários Associados, formado pelo Diário de Notícias, O Estado da Bahia e a Rádio Sociedade.
Seu diretor, o jornalista e poeta Odorico Tavares, juntamente com o jornalista Paulo Nacif, passaram a ir diariamente almoçar ali. O que quer dizer que o Porto do Moreira era onde se sabia de muitas coisas em primeira mão. E, até hoje, quando algo importante está para vir à tona, amigos da imprensa ainda ligam, dando o furo. LEÃO COM TODA JUBA
O fascínio que Moreira exercia nos clientes se estende pela família e amigos. Foi no restaurante, afinal, que cresceram seus filhos Américo, 68, Antonio , 62, Francisco, 60, e Zulmira, 51. Francisco e Antonio, que também é chamado de Moreira, é que levam o negócio adiante, há 33 anos. "O bar tinha um atrativo sensacional para o pessoal da boemia“, diz Américo, mesmo espantado como aquele lugar simples, "até mais feio do que esse", podia ser capaz de tanto. Ele trabalhou até os 18 anos com o pai, quando foi cursar engenharia, mas lembra que atendia Odorico e Nacif: "Era salada de bacalhau, arroz, pão, manteiga e goiabada com queijo".
Sua memória tem contornos ainda mais nítidos quando fala do pai: "Ele era uma pessoa muito boa e, talvez, isso tenha conquistado as pessoas. Talvez, tenha sido isso a maneira de ele ser'. Mas, quando estava de ressaca, ficava, com a desculpa do trocadilho, intragável. Não suporto bebida!", dizia Moreira, e largava tudo com a mulher no restaurante e ia para casa. Mas não é bem que não suportasse bebida: se um cliente estava bebendo rum, ele bebia rum. Se fosse aguardente, lá ia Moreira de aguardente. Vinho? Você já sabe. "Hoje eu sou membro cliente e pago, sem abatimento", diz Américo, que costuma ir lá aos sábados. Mas são os domingos, “dia de passeio”, que a filha Zulmira recorda: "Pegávamos o carro de praça na Piedade, e meu pai era um leão com toda a juba, onde chegava aparecia. Foi uma infância muito boa".
Os muitos personagens que fariam história e freqüentavam o lugar, para ela, eram clientes apenas: "Quando você é pequeno, não tem noção daquilo, da importância que aquele espaço representa para uma época, porque era um espaço cultural e de troca". Desde que chegou ao Brasil, no dia 8 de dezembro de 1928, dia de Conceição da Praia, com 19 anos, a data passaria a ser comemorada todos os anos por Moreira, que vinha de Vila da Feira, no Porto. Marceneiro, trabalhou no Convento São José, na Baixa do Bonfim, e também em Cachoeira, São Félix e São Gonçalo. Costumava freqüentar o café Ítalo-brasileiro de uma senhora calabresa, na rua do Cabeça, e se encantou com a filha dela, Maria, que trabalhava no balcão. Em 1938, abriu o Porto ao lado do café e casou com Maria. "Eu tenho a honra de dizer que meu sobrenome é Moreira", diz Antonio, espécie de relações públicas do restaurante. Ele lembra claramente do dia do funcionário público, 28 de outubro de 1975, quando o pai lhe deu algumas coordenadas sobre o que fazer naquele dia, e foi para a praia de Cabuçu, com a mulher.
Tinha um certo vai-não-vai no ar, e ele chegou a dizer: "Vocês querem que eu morra aqui? Quero passear", e foi. Chegou a perder o ônibus da excursão que já havia saído, mas conseguiu alcançá-lo. ”Eu não conheço Cabuçu, mas dizem que é uma praia linda”, imagina o filho, que soube que já na praia, entre uma ou outra anedota de português, o pai se levantou e disse: "Agora vou dar um mergulho e sair na Barra". Maria ainda o viu caindo, aos 66 anos, por causa de um edema pulmonar. "É a vida; ele morreu muito novo e minha mãe morreu oito anos após, foi um abalo forte", conta Antonio.
LARGO DO MOCAMBINHO, 28
Francisco, 60, que herdou do pai muitas habilidades com serviços práticos, também é exímio com as datas da história familiar. ”Meu pai era fabuloso e não queria que ninguém tratasse peixe para ele. Ele sabia fazer isso e cozinhar ao máximo, e tinha na retaguarda minha mãe, que também sabia muitas coisas”. Esses 70 anos, diz Francisco, serão comemorados com muita festa, porque acredita que foi muito difícil para seus pais, sendo europeus, terem a ascensão que tiveram. Quando ele morreu, a família passou por altos e baixos. “A gente teve muita ajuda dos fregueses, que deram muita força, mas teve quem não acreditou que fôssemos levar esse barco adiante”.
Para ele, uma coisa é abrir um negócio que pode ou não dar certo. Outra é pegar um patrimônio já estabelecido e levar para frente. "Tenho 60 anos e são 60 anos de restaurante. Felizmente, graças a Deus, a gente não deu pra nada, deu para o restaurante e aqui estamos bem". Os irmãos Antonio e Chico fazem questão de conservar o restaurante como seus pais, o que mantém clientes. "Não há diferença substancial do que era na rua do Cabeça", garante o advogado e presidente do Clube Inglês, Pinho Pedreira, 92.
Uma vez, ele almoçava durante o Carnaval com um amigo que disse, brincando com o garçom Popó, que não tinha se dado bem com a comida. Popó, que tomava muitos goles, veio com esta: ”Isso é verdura velha que o Moreira coloca na comida”. Resultado: Moreira tira Popó do atendimento e o coloca na cozinha. Mesmo que houvesse outros restaurantes antes, Pedreira diz que ali é muito peculiar, e o que sempre o marcou é a freqüência heterogênea, com intelectuais, juízes e pessoas simples.O desembargador aposentado Eduardo Jorge Magalhães, 62, para quem ”o Moreira é uma instituição”, freqüenta o espaço desde a adolescência. O fato de os filhos de Moreira terem sabido manter os propósitos e convicções do pai, na sua opinião, fez com que cultivassem os seus amigos e conquistassem novos. ”Sem forçar nenhuma barra, nem ferir nenhum preceito religioso, digo que estar no Moreira é uma das formas de estar no ceú”.
ASSOCIAÇÃO DOS BOÊMIOS
Amigo da família há muitos anos, o corretor de seguros, José Machado Duarte, 78 anos, conhecido como Zé Piromba, considera o Porto do Moreira sua segunda casa. ”Isso aqui foi nossa escola de boemia da Bahia, nossa ABB, Associação Baiana de Boêmios“. Ele andou muito com Moreira pela cidade: iam ao bar Anjo Azul tomar xixi-de-anjo em copinhos de barro que pareciam pinicos e, lá para as duas, iam para “o mulherio”, na Montanha.
Zé Piromba é mesmo um fenômeno da boemia: ”A gente ia ao Cassino Tabaris e, quando perdia o bonde, ia andando. Não tinha ladrão, não tinha assalto. Hoje é raro eu sair à noite. Não saio não sei há quantos anos. Hoje não tem mais aquela tranqüilidade, e Salvador é uma cidade violenta, você tem medo de tudo, não tem segurança, não tem nada”.
Ângulos da violência no presente são registrados pelo documentarista Luiz Carlos de Alencar, 30, de Bombadeiras (2007), que freqüentou muito o Moreira com o avô Inácio Alencar, dos Diários Associados. Morando no Rio há seis anos, ele está na cidade gravando seu próximo documentário, que trata da violência em Salvador. “Meu avô era amigo do Moreira e aqui era um reduto de intelectuais e artistas. É o único lugar na Bahia que eu como galinha ao molho pardo. E foi lá que eu ‘bebi o morto’ do meu avô”, diz Alencar.
POLÍTICA À PARTE
Da casa à cidade, do privado ao público, várias correntes políticas e de pensamento podem estar por lá. "Não ligo para esse negócio de política porque sou comerciante. Comeu, pagou, não me interessa qual é o partido", diz Antonio. O segundo filho do velho Moreira cursou até o terceiro ano de Filosofia e foi assim no dia que chegou com o resultado:
– Meu pai, passei. – Passou em quê? – Filosofia. – Grande merda!
Hoje ele ri do que pode ser um paradoxo: "Que incentivo melhor do que esse?" Estudante de Geologia da Ufba entre 63 e 66, o ex-governador e atual presidente do DEM, Paulo Souto, tem uma foto sua exposta no bar, fazendo locução de um jogo em Ubaituba. De vez em quando, vai ao Moreira e lembra que, quando era estudante e “sobrava um dinheirinho“, dava para almoçar lá. Souto também não vê traços ideológicos no restaurante: “O ambiente tem freqüentadores muito repetidos, que têm fidelidade com o espaço. Embora seja um lugar simples, a comida é boa”. O que parece importar mesmo são os omeletes de camarão e, quando está disposto a enfrentar o colesterol, vai de moqueca de miolo, com camarão e ovo. "Eles têm um tratamento muito pessoal com cada freqüentador e sabem o que cada um gosta. Às vezes, não dá tempo nem de pedir, eles já botam o prato".
O desembargador Carlos Dultra Cintra, 65, se sente em casa por lá e conhece todos.“É o restaurante da minha preferência em Salvador“. Formado há 40 anos, ainda ia lá como estudante. O desembargador também teve a felicidade de estar ali, certa tarde, durante a filmagem do documentário Batatinha e o samba oculto da Bahia (2006), do professor Pedro Abib, 46, que também é músico e vai ao restaurante há cinco anos. Paulista, mora há quinze na Bahia e se encantou com uma foto clássica do restaurante, com Batatinha e outros sambistas, feita na Cantina da Lua, mas que nem o proprietário possui.Naquela tarde, estavam reunidos personagens que freqüentam o bar e estão na mesma foto com Batatinha, como Walmir Lima, Riachão, Edil Pacheco e Nelson Rufino.“Acho o Moreira fantástico, remete a uma coisa que não tem mais, com isso de fast-food. Parece que a gente está na velha Salvador“, avalia Abib. Batatinha, que era linotipista do Diários Associados, ia ao bar com sua caixinha de fósforo, à espreita de um samba. “A gente passava tardes e tardes conversando“, lembra Moreira (Leia histórias de Batatinha no site).
ECOLOGIA BAIANA
O poeta e letrista Capinam, desde que voltou do Rio, na década de 70, vai ao Moreira. Para ele, que apresenta o restaurante para vários amigos, como Paulinho da Viola, é onde se come a comida caseira baiana mais característica. “A ecologia do Moreira é totalmente baiana. Quero dizer que lá não se come apenas comida com sabor baiano, mas é um lugar onde se conversa, fala-se sobre política, se fofoca; é um restaurante que é um ponto de comunicação”. E isso, lembra, desde os Diários Associados e da vanguarda intelectual do cinema que também escolheu aquele lugar.Antonio Moreira chama de Os três Mosqueteiros o grupo formado por Glauber Rocha, o jornalista e cineasta Paulo Gil Soares e o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, que trabalhavam no Diários Associados.
Além dos amigos, que incluíam outros, como o artista plástico Calasans Neto, Glauber ia lá com sua mãe, que conheceu o antigo Moreira e freqüenta o atual. ”Quando vou à Bahia, a gente sempre almoça lá. A comida é maravilhosa. Se não parar de comer, não pára”, diz Lúcia Rocha. Para a turma do seu filho, ali era um lugar de discussão: ”Naquela época, as pessoas tinham muita vontade de fazer algo e conseguiram”.
Viúva de Calasans Neto, Auta Rosa ouviu dizer que houve uma época em que no Moreira não havia sequer cadeira, mas a comida era tão boa que ninguém saía de lá. Calasans, que adorava o filé da casa, só deixou de ir lá quando não podia mais andar, mas escreveu bilhetes para Antonio e Chico falando da saudade que sentia.Depois da morte do artista, Auta diz que leva todos os seus amigos, brasileiros e estrangeiros, ao restaurante, quando a chamam para sair e dizem que ela pode escolher o lugar. Lembra que Glauber e dona Lúcia eram muito amados por ali: ”Ela não dava só comida a Calá na pensão dela, mas costurava a camisa para eles todos. Ela tinha todos os direitos sobre eles, porque quem dá comida e roupa tem”.
Um dos mosqueteiros, Florisvaldo Mattos, editor-chefe de A Tarde, lembra que ele, Glauber e Paulo Gil trabalhavam no Diário de Notícias e iam almoçar no Moreira. Ainda hoje, Antonio diz quando ele vai ao restaurante: "Esse aí dividia prato com Glauber Rocha". Ao que responde que seguia a regra da casa que antes, como agora, serve porções inteiras e meias. Ele passou a ir na segunda metade da década de 50, e destaca que todos os itens do cardápio sempre estão disponíveis. Quando completou 70 anos, em 2002, foi homenageado com o espaço Florisvaldo Mattos, uma sala de espera. ”Como sou um dos poucos daquela época que estão vivos, é uma homenagem extensiva ao meu grupo, a Geração Mapa, a geração 60, como Anísio Félix e Jeová Carvalho.Apenas represento figura icônica, mas é uma homenagem aos de minha geração que freqüentavam o lugar”.
MOQUECA DE MIOLO
Pela casa onde já passaram nomes como Manabu Mabe, Di Cavalcanti, Renot, Procópio Ferreira, Gordurinha, Pancetti, Carybé e João do Pulo, novos amigos não cansam de chegar. O chef italiano Alessandro Narduzzi, por exemplo, do restaurante La Lupa, acha que o mais interessante do lugar é que ele não se modernizou, o que o assemelha a alguns bares do centro histórico de Roma. ”A moqueca de miolo, eu adoro, é maravilhosa”, diz ele, para quem é um lugar que você come comida baiana com preço justo. O Moreira, em sua opinião, é um cartão postal da Bahia.
O talento, ou melhor, os talentos responsáveis pelos elogiados pratos do Moreira são Maria dos Reis Oliveira e Joelina Cruz, ambas com 51 anos. A primeira está lá há 26 anos e a outra, há 21. Na época, Maria paquerava o filho da cozinheira mais antiga, Maria de Jesus, e estava desempregada. Quando chegou, inclusive não serviam o atual carro-chefe da casa, a moqueca de carne.Joelina, que já havia trabalhado oito anos como ajudante, se adaptou: ”No início, a gente fica toda embananada, aquela atrapalhação, não sabe de nada. Depois, uma vai ensinando a outra”. Seu Francisco, diz ela, também dá orientações e é muito criativo na cozinha. O mais importante, conforme crê, é que a comida é feita no dia e não usam bicarbonato. ”Aqui a gente come a comida como se come na sua casa“.
Com os anos juntos, o sentimento de familiaridade. ”Tem hora que a gente fala coisa e a gente pára e pensa: meu Deus, eu falei isso pra seu Antonio, eu falei isso pro seu Franscisco! ”, ri. Sem contar que quando um deles adoece, elas se preocupam. Antonio diz logo: “Não fique se preocupando comigo não, me deixe!". O outro, Francisco, segundo ela, é mais dengoso. Tão dengoso que, por certo, sua filha Maria Cristina, 32 (que é a neta mais velha), quando ele completou 50 anos, coletou fotos e recortes disponíveis da trajetória familiar e fez um álbum para o pai.
É dela que se espera a continuidade, um dia, do Porto do Moreira. "Amigos e a família dizem que sou eu que vou tomar conta e gosto dessa responsabilidade", diz, ciente que a casa nunca fez publicidade e sempre funcionou no boca-a-boca, com o mesmo padrão do seu avô, embora pense em dar uma visão mais feminina do negócio: "Botar um vasinho de flores, dar uma arrumada e investir nos funcionários". Sua idéia é que haja muitos 70 anos para comemorar, e definiu o Moreira no Orkut: “Uma tradição, uma vida, um legado”.
Quem se espanta ao ter consciência de que a história não diz respeito apenas ao passado é o administrador Manolo Dominguez, 48, que vai ao Moreira desde 1990. "A convivência aqui é uma experiência de vida. Encontramos pessoas mais velhas, mais novas, mas todas sedentas por histórias de Salvador". Seu grupo se encontra no mesmo dia, segundo ele, para jogar conversa fora, ”aí vai ficando, vai ficando”, depois vira jogo de palitinho e quando percebe são 10 da noite. As esposas? ”Ficam ligando, ligando, ligando”. É uma mesa que está, a seu modo, fazendo história no lugar. Isso faz Monolo pensar: ”Se eu venho aqui por uma história, meu filho também deverá vir aqui porque eu vim, não é verdade?”. E, em vez de Popó, a memória do filho talvez se volte para Ailton Moreira, 61, o garçom mais antigo, com 12 anos de casa, também chamado de Bigode. Ele foi trabalhar quinze dias e acabou ficando até hoje. Antonio o apresenta como irmão, já que têm o mesmo sobrenome, alegando que o velho José Moreira da Silva, como agora sabemos, andou muito por esta Bahia.
A tradição do lugar, suas histórias, personagens e a comida também fisgaram o paladar do publicitário Carlos Alberto Carvalho, 57. Ele acredita que o fato de os irmãos acompanharem todas as fases da preparação dos alimentos é responsável pelos 70 do Moreira. Ele, que vai lá há oito anos e trabalha com Nizan Guanaes na agência África, recentemente levou o publicitário e sua mulher ao Moreira, onde comeram sarapatel. Conta que Nizan achou o Moreira uma coisa espetacular e fez propostas aos donos. Antonio não diz nem que sim nem não. Vai aguardar os acontecimentos.
O que sabe ao certo é que esses 70 serão mais do que comemorados. Por conta de algo que aconteceu com um conterrâneo do velho Moreira e o filho dele, Antonio conta que, às vezes, quando fregueses falavam ao seu pai para ele ir dar uma volta em Portugal, se ia morrer sem visitar sua terra, o pai respondia: "Vou nada, se eu for a Portugal, quando eu voltar os meninos venderam até o restaurante". Nestes 70 anos, sua intenção é uma apenas: "Eu gostaria de mostrar a ele, no 7 de setembro, 33 anos depois, que o Porto do Moreira não foi vendido, não foi fechado e continua a tradição dele. É para mostrar a ele que nós continuamos".

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

muito boa a reportagem sobre o porto
do Moreira. è a tradição dessa gente ,fazendo a História e a memória da nossa Cidade.Ainda vou
entrevistar o pessoal do porto ,pois estou fazendo um documentário sobre a Cidade.

Parabéns / Jorge Pacoa

jorgepacoa@hotmail.

segunda-feira, março 15, 2010 3:59:00 PM  

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