As malas de Elize salvaram Ronaldinho
Malu Fontes
Não fosse a bela, rica e loura Elize Matsunaga dar um tiro na cabeça do marido, esperar horas e horas para o sangue do corpo morto coagular e, assim, evitar sangramento para então esquartejá-lo até fazer caber os pedaços em três malas e carregá-las sob o olhar sempre vigilante das câmeras onipresentes de um elevador, Ronaldinho Gaúcho é quem teria ocupado o posto de grande réu da semana nas manchetes da telejornais. A semana televisiva começou com mais uma bomba de vento jornalístico.
Todas as emissoras foram atrás da sanha de Patrícia Amorim, a moça meio sem sorte ou norte do Flamengo, que, com o propósito de ganhar um round numa batalha milionária trabalhista orçada em 40 milhões movida pelo jogador contra o time, tirou da cartola imagens mostrando uma mulher entrando com uma mala num dos quartos do hotel onde a equipe estava concentrada, em janeiro deste ano, em Londrina. As câmeras, assim como denunciaram o esquartejamento até então inconfessado de Elize Matsunaga, também mostram o que parece que nem os torcedores mirins têm dúvida. Nove entre 10 (e há quem diga que são 11 a cada 10) jogadores de futebol fazem sexo ou outras coisas nas concentrações. As câmeras mostram Ronaldinho entrando e saindo do quarto da moça da mala e saindo cedinho, todo vestido para o treino.
Mortes - O detalhe jornalístico surpreendente do episódio não é o que as imagens mostram, mas a forma como a imprensa é pautada ao gosto e ao sabor dos discursos dos donos da notícia em cada área, seja esporte, política, celebridades, etc. Todas as emissoras, sem exceção, mostravam Ronaldinho praticamente como um criminoso flagrado durante o ato. Desde quando a maioria dos grandes astros do futebol brasileiro tem como característica exatamente traços como contenção, bom mocismo, bom comportamento, sobriedade e fidelidade (no caso dos casados)?
Da história inteira de álcool e mulheres de Garrincha ao bafafá entre Ronaldão e os travestis, passando por Romário, Renato Gaúcho e os trocentos casos envolvendo Edmundo, embriaguez e até mortes, em que aspecto Ronaldinho Gaúcho representa uma evolução para pior? A única diferença parece ser a câmera de um hotel. E se Patrícia Amorim acha isso tão grave e transgressor assim, com a anuência da imprensa de um modo geral, que deu à coisa o tamanho da repercussão que deu, por que não tomou providências em janeiro?
Jumentos - E por que o Flamengo contratou Ronaldinho sabendo que na Espanha o jogador já era uma figura do balacobaco? E por que ninguém do Flamengo nunca ouviu os lamentos dos moradores do condomínio onde o moço morava e dava baladas que só não perdiam para as de Adriano? Se nas festas de Ronaldinho o traço era a desproporção infinitamente superior entre a quantidade de mulheres e o barulho da música, a marca Adriano era dar um toque de Calígula aos seus eventos. Qualquer busca no Google mostra que em suas festas eram comuns a junção de ex-bbbs, anões e, sim: jumentos. Não causará estranhamento se a qualquer momento a direção do Flamengo acusar o gaúcho, com a anuência da imprensa para a divulgação, de infração contratual no quesito estética, sob a alegação de que comprou um galã e recebeu um Shreck Black e dentuço de chuteiras.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 10 de junho de 2012, no jornal A Tarde, Caderno 2, p. 05, Salvador/BA.
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