Bahia registra 15 casos de mortes violentas por homofobia em 2012
Hieros Vasconcelos Rego
Nesta quinta, 28, Dia Mundial do Orgulho Gay, pouco há para comemorar. Dados comprovam que a intolerância ainda é grande na sociedade brasileira e tem provocado inúmeros casos de homofobia, especialmente na Bahia. Só este ano, foram 15 mortes no Estado, todas ocorridas de forma brutal. Na mais recente, último domingo, em Camaçari (Grande Salvador), o estudante José Leonardo, de 22 anos, foi assassinado a pedradas, ao ser considerado gay por estar abraçado ao próprio irmão gêmeo, José Leandro.
Três suspeitos estão detidos na 18ª Delegacia (Camaçari): Douglas Estrela, de 19 anos, Adriano Lopes, de 21 anos, e Adan Jorge Araújo Benevides, de 22 anos. "Casos como esse em Camaçari revelam que a homofobia pode causar danos a qualquer pessoa. É mais sério do que se pensa", afirma o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro do Conselho Nacional LGBT Leandro Colling.
O Estado da Bahia teve em 2011, pelo sexto ano consecutivo, o maior número de mortes (28) por homofobia do Brasil, à frente de Pernambuco (25) e São Paulo (24). No Brasil, foram 266 homicídios em 2011. Comparando a alta de 2007 (122 mortes) até o ano passado, o aumento chega a 118%. Este ano, já são 104 mortes contabilizadas em todo o país.
Para o antropólogo Luiz Mott, ninguém nasce homofóbico. A fobia, segundo o estudioso baiano, é fruto da omissão das instituições, da controversa educação familiar ou das dúvidas sobre a própria orientação sexual. "As pesquisas cada vez mais confirmam a tese de Freud, de que quem tem problema com a própria sexualidade agride e discrimina quem apresenta uma sexualidade diferente".
Diante desse cenário com traços de crueldade, fica evidente a falta de políticas públicas. "O que temos de mais concreto no país são ações criadas pelo governo do Rio de Janeiro, que implantou um centro de referência e campanha midiática muito forte", informa Mott. Para o psicólogo e mestrando em cultura e sociedade Gilmário Nogueira, a proibição da distribuição do kit contra homofobia nas escolas foi um passo para trás.
"A homofobia vitimiza qualquer um que demonstre afeto fora dos parâmetros preestabelecidos. Não está ligada à prática homossexual. E ela surge dentro de casa. Por isso é preciso aprender nas escolas que existem diversas formas de amar", defende.
Homossexual assumido, o produtor Benin Ortiz, de 24 anos, foi vítima de homofobia aos 14 anos, dentro da escola, quando um garoto, que já o perseguia, deu um chute na barriga dele. Benin, que morou em Londres e Tel Aviv, fica "espantado" com a forma como tratam a questão no Brasil.
"A população é ignorante. Não entende que existem várias formas de amar", aponta. Benin, ativistas e pessoas que sabem os males da homofobia torcem pela aprovação do projeto de lei que criminaliza a prática. Mas a votação do projeto no Senado foi adiada para 2013, por divergências provocadas, na maioria, pela bancada evangélica. Texto publicado originalmente em 28 de junho de 2012, no jornal A Tarde, Caderno Cidades.
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