Vadi@ ou vadia?
Luiz Felipe Pondé
Vadi@ ou vadia, eis que a questão. A primeira é de mentirinha, a segunda é pra valer. Você me pergunta como pronunciar a palavra "vadi"? A resposta é: não se pronuncia. A intenção no uso de "" no lugar da vogal que designa o gênero de uma palavra é exatamente ser politicamente correto e emudecer a palavra. Coisa de fascista.
Pergunto-me: que mente brilhante teve tempo vazio o suficiente para pensar em algo tão sublimemente vazi@? Mas e "vadia"? Vadia, até ontem, era uma mulher fácil. Mas, agora, é um termo que designa um novo direito: aquele de vestir saia curta, mostrar os seios, e não ser objeto de violência sexual. Tem todo meu apoio. "Homem que é homem não bate."
No fundo, o novo uso da palavra "vadia" significa: "só gosto de apanhar de quem me dá tesão", como me disse, uma vez, mais ou menos assim, uma aluna, para definir o que era, para ela, uma mulher emancipada. O movimento das vadias, nascido no Canadá, retoma a ideia de ser vadia de uma forma bem-humorada e, espero, sem incorrer no erro clássico do feminismo: deserotizar a mulher a fim de torná-la "cidadã".
Uma das coisas que me faz simpatizar com a "agenda das vadias" é sua estética, que a distancia da agenda careta e puritana do feminismo institucionalizado. O puritanismo feminista, que não entende nada de mulher, faz da mulher uma "camarada" vestida de homem em meio a um mundo brocha de tanta exigência de igualdade entre os sexos. Pecado dá mais tesão do que a revolução sexual, esta brincadeirinha de menina de classe média.
Não existe "sexo correto", sexo é o lugar no qual nos perdemos, e por ser gostoso, sempre "metemos" os pés pelas mãos. Aliás, o sentido ambíguo da palavra "metemos" nesta frase (num contexto sobre sexo) fala mais de sexo do que uma lei que diga que "sexo é dever do Estado e direito de todo cidadão" ou que "sexo é saudável e que devemos praticá-lo três vezes ao dia, segundo pesquisas em Harvard".
Como diria Freud, sendo irônico: "Penis normalis dosim repetatur" não resolve o problema da histérica. Veja, por exemplo, a literatura sadiana (do Marquês de Sade, autor do século 18, chamado de "divino" por quem provavelmente não faz sexo): existe coisa menos erótica do que sua histeria a favor do "sexo livre"? Sade cresce quando fala que a natureza é perversa e não quando fazem dele arauto da Revolução Francesa e sua breguice ideológica.
O risco maior é do movimento das vadias fazer da vadia uma vadi@ e com isso revelar nosso preconceito contra as verdadeiras vadias, mulheres que encantam o mundo com seu Eros intratável.
As verdadeiras vadias devoram homens porque em sendo promíscuas, entendem mais sobre a alma humana do que "padres, freiras e revolucionários", parentes muito próximos das feministas, e mais afins com a tendência de fazer do sexo um "direito de todo cidadão".
Quem diz coisas como "sexo é saudável" faz gargarejo e escova os dentes depois de fazer sexo oral. Recomendo para quem quiser ser vadia pra valer e não vadi@, a trilogia de E.L. James, uma inglesa, "Fifty Shades", cujo primeiro volume, "Fifty Shades of Grey" (cinquenta tons de cinza) é best-seller absoluto no mundo de língua inglesa.
O livro narra o romance entre um homem de cerca de 30 anos, "macho alfa" (rico, bonito, seguro, inteligente) e uma mulher de cerca de 20 anos, também arrasadora. Surpresa: ele curte "sadomasô" light e ela se descobre apaixonada pela submissão sexual ao homem como jogo de prazer. Contra quem acusa seu livro de "machista", a autora diz que graças ao seu livro as mulheres estão conseguindo falar de sexo de novo depois de anos em silêncio devido à patrulha das "camaradas".
A diferença entre vadi@ e vadia é que enquanto a primeira geme de ressentimento porque é mulher, a segunda geme de tesão quando puxam seu cabelo. Depois, ela toma um banho e vai numa reunião de negócios sem que ninguém suspeite em qual secreta posição ela gosta de apanhar de quem lhe dá tesão.
Amanhã é Dia dos Namorados. Compre uma saia de vadia pra sua namorada. E não escove os dentes depois.
Texto publicado originalmente em 11 de junho de 2012, no jornal Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada.
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