O exagero na arte de ser sexy
Xico Sá
Sim, o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria, como disse o poeta romântico inglês William Blake(1757 - 1827). Um cara que tinha o maior jeitão de ser assim um Beatles.
Óbvio que na existência, vale o verso, sempre. Triste de quem morre com saúde. De quem não rala a pele em quedas tantas no rolimã do amor e da sorte.
Vale o verso para quase tudo, assina que é teu, velho Blake. Uma verdade que só não serve para uma coisa na vida. Pense nisso. Apenas em uma ocasião, em especial, o excesso pode ser um desastre. Palavra de homem.
Sabe quando ela tenta ser sexy ao extremo?
Aí é que mora o perigo. Corre o risco de ficar caricato ou levemente broxante. O risco de ficar parecendo manequins de sex shop: modelão over, minissaia, decote, lingerie, perfumes apurados, coreografia ensaiada, beicinhos fora de hora…
Até parecem que fizeram um curso rápido e artificial de strip. Não é por ai, calma.
Se a gente vai para a casa delas, deus mio, pior ainda: lá está o incenso exagerado e enjoativo, a luz ensaiada, os sais fervilhando na banheira - se for o caso de uma dama bem de vida - e todo um circo que nos tira do prumo.
E haja caras de "sexy", coisa de quem aprendeu, passo a passo, nas páginas de revistas que ensinam as mais novas posições para um orgasmo infalível! Como se o velho e bom kama-sutra e os seus mil e um bambuais fossem pouco.
Mulheres, esqueçam o kit sex shop. É mais importante uma safadeza, um charme, um suspense no olho durante um jantar, do que a extravagância propriamente dita. Se cuidar, ficar bonita, é de lei, claro, sem problema; mas não carece carregar nas tintas do desejo.
Não que tenha que acreditar na canção do Dorival Caymmi, esse gênio baiano, que aconselha a Marina não pintar sequer o rosto, que é só seu… Isso é poético, mas uma pintura, um jeito no cabelo, apreciamos, nada mais lindo, pinte sim este rosto que eu gosto e que é só seu. Pinte com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincando de colorir o desejo.
Nada como reforçar a chance que Deus lhe deu com os novos milagres da cosmética e da beleza, como naquele velho receituário de Ovídio, um poeta que sabia, em tempos romanos antes de Cristo, da arte de amar e dos remédios para o rosto da mulher.
O que não pode é exagerar da cabeça aos pés, com roupas, acessórios e badulaques que, em vez de sexy, podem estragar o encontro, a festa, a grandeza da vida, virar uma máscara contra toda e qualquer naturalidade.
Uma calcinha branca de algodão pode guardar toda a feliciade do mundo. Texto publicado originalmente em 09 de julho de 2012, no jornal Folha de São Paulo.
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