O canto de Jussara Silveira
A Tarde, domingo, 16 de março de 2008 – Opinião
Marlon Marcos
Muitos já disseram que a beleza não pode ser traduzida por adjetivos, ela simplesmente é. No dia 9 de março, às 11 horas, na sala principal do Teatro Castro Alves, lotada, com ingressos que custaram um real o valor da inteira, a platéia assistiu comovida a um show memorável da cantora brasileira Jussara Silveira, acompanhada do violão irretocável de Luiz Brasil, num casamento musical que naquele dia beirou a perfeição.
O show Gangorra de Dois registrou a força que o talento possui. A voz e o violão em sintonia absoluta. O canto afinadíssimo da mulher leve como água, milimétrica, tranqüila, altiva, linda em todos os possíveis adjetivos que negam a assertiva acima, que para a beleza estes não existem. Jussara foi e é pura transgressão. Intensa intérprete do cancioneiro não só brasileiro, ela já cantou canções italianas, espanholas, portuguesas, angolanas, dentro de um repertório que a entrona como uma das mais cuidadosas artistas do canto feminino do nosso País.
O TCA naquele domingo se iluminou da mágica que a música popular brasileira produz, tendo dois altíssimos representantes, desfiando pérolas de um canto e de sonoridades extraídas de um violão. Aliás, um violão humanizado pela sensível maestria de Luiz que sabe como ninguém emoldurar as preciosas voz e presença de Jussara no palco. Uma manha inesquecível, radiante pela possibilidade de nós baianos prestigiarmos esta dupla artística, a preço popularíssimo, quase de graça, e recebermos o contentamento que a arte nos oferece da maneira mais intensa, mais correta, mais tocante.
Jussara está entre as dez maiores cantoras brasileiras da atualidade. Possui uma afinação que lembra a diva Gal Costa em seus tempos áureos, a sua cenologia diagnosticada por muitos como monótona, acompanha a tônica da sua personalidade serena, segura, intimista como um João Gilberto, partindo para um canto inspirado nas águas do oceano da Bahia. Uma marca artística construída por dedicação e experiência, que, ao longo de mais de 15 anos, a fez gravar tão-somente cinco CDs.
Uma artesã do seu próprio canto. Proprietária inconteste de canções como Dama do Cassino, Ludo Real, Argila, Juliana, Braço de Mar, Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim, entre muitas outras. O seu ultimo CD Entre o amor e o mar intensifica o lado cool da cantora e nos transporta para sensações vividas por nós com referencias aos sentimentos amorosos e a experiência com este ente chamado mar.
É triste não sabê-la mais popular e mais querida pelo público brasileiro. Não ouvi-la melhorando as cenas insossas das atuais novelas da televisão brasileira. Não conhecer nenhuma gravadora que aposte na força mercadológica do seu talento. Não ver a mídia reconhecê-la como um dos cantos mais preciosos deste Brasil de Cláudia Leite.
Como diz o seu canto: “Meu coração não quer saber o que sabe/ Meu coração da escuridão/ Quer milagres”. Milagre já é você, Jussara Silveira. Alumbramento.
Marlon Marcos é jornalista, mestre em Estudos Étnicos e africanos pelo Ceao-Ufba
2 Comentários:
Achei lindo vc ter postado aqui! Seu blog é lindo! Marlon.
cadê vc moça?
bjs laura
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