Bagagem de mão
Ruy Castro
Como sempre fico no corredor, aprendi a não me deixar abalroar, inclinando-me a um ângulo de 45 graus em direção ao vizinho do meio e me desculpando por quase montar sobre ele. De objetos compridos e pontiagudos é mais difícil desviar. Dependendo do destino ou origem do voo, já aconteceu de ter de me proteger de minipranchas de surfe, varas de pesca e até berimbaus.
Não me pergunte como a turma entra no avião com esses apetrechos. Ou como, certa vez, um passageiro sentou-se ao meu lado segurando um acordeão de 120 baixos - e desmoralizou a lei de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Outro dia, uma mulher com cintura de pilão tentava acomodar no compartimento superior um objeto circular que, pela embalagem, parecia ser um bambolê.
E mães com enormes carrinhos de bebê são comuns - por sorte, os atuais carrinhos, depois de dobrados, ficam pouco maiores que um leque. Mas nada supera a jovem mãe que vi entrar no avião carregando uma criança de colo, esta com tamanho e peso suficientes para lutar sumô - estava, inclusive, de fralda. Já tive confiscado um cortador de unhas, mas não me surpreenderei se, hora dessas, alguém entrar no avião portando uma bigorna.
No aeroporto, não vacilo mais. Descobri que faço parte de um grupo de privilegiados: os macróbios, que, assim como os cadeirantes, gestantes e mães com crianças de colo, podem ignorar a fila de embarque e passar à frente dos outros rumo ao avião. Com isso, sou dos primeiros a entrar no bicho. Não por pressa de voar, mas para me divertir com as bagagens de mão que as pessoas trazem consigo. E não me refiro às mochilas descomunais, que, às costas de seus donos, passam abrindo caminho entre as fileiras, despenteando senhoras, derrubando óculos e se esfregando em bochechas.
Como sempre fico no corredor, aprendi a não me deixar abalroar, inclinando-me a um ângulo de 45 graus em direção ao vizinho do meio e me desculpando por quase montar sobre ele. De objetos compridos e pontiagudos é mais difícil desviar. Dependendo do destino ou origem do voo, já aconteceu de ter de me proteger de minipranchas de surfe, varas de pesca e até berimbaus.
Não me pergunte como a turma entra no avião com esses apetrechos. Ou como, certa vez, um passageiro sentou-se ao meu lado segurando um acordeão de 120 baixos - e desmoralizou a lei de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Outro dia, uma mulher com cintura de pilão tentava acomodar no compartimento superior um objeto circular que, pela embalagem, parecia ser um bambolê.
E mães com enormes carrinhos de bebê são comuns - por sorte, os atuais carrinhos, depois de dobrados, ficam pouco maiores que um leque. Mas nada supera a jovem mãe que vi entrar no avião carregando uma criança de colo, esta com tamanho e peso suficientes para lutar sumô - estava, inclusive, de fralda. Já tive confiscado um cortador de unhas, mas não me surpreenderei se, hora dessas, alguém entrar no avião portando uma bigorna.
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