quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Os anormais

Na primeira aula de seu seminário de 1974-75, Michel Foucault afirma que "a eventual infãmia dos governantes não é um contratempo do poder, mas um mecanismo essencial ao seu funcionamento". Foucault nota que, desde a Antigüidade (o império romano é uma mina de exemplos), é freqüente que os governantes sejam teatralmente desqualificados.
Ao contrário do antropólogo Pierre Clastres ("A sociedade contra o Estado", Cosacnaify, 2003), Foucault pensa que a indignidade do poder serve para demonstrar que ele é incontestado. Segundo ele, o governante e o poderoso grotescos (desde o burocrata Caspento assinando ordens de deportação até o imperador tocando música enquanto contempla o incêndio de sua cidade), confirma a nossa inércia diante do poder, seja qual for a caricatura que o encarna.

FOUCAULT, Michel. Os anormais. Martins Fontes, 2005.

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