Animais morrem de frio no Centro de Zoonoses de Araraquara (SP)
Manoela Marques
Um mês após intervenção do Ministério Público propondo acompanhamento do tratamento de animais, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Araraquara (a 288 km de São Paulo) voltou a registrar mortes em decorrência de maus tratos, e as promessas da Prefeitura ainda não foram cumpridas. A denúncia foi feita por voluntárias de associações protetoras, na tarde desta quinta-feira (21).
Segundo Betty Roedel Peixoto, do grupo SOS Melhor Amigo, há cerca de duas semanas, quando a temperatura baixou muito na cidade, ao menos cinco cães morreram de frio por ficarem em baias com piso de cerâmica e se molharem na chuva ao sair para a parte externa do local.
As ONGs se uniram e doaram 21 camas altas e com cobertor, para abrigar os animais. Nesta tarde, no entanto, ao visitar o CCZ, a voluntária da Associação Araraquarense de Proteção aos Animais (AAPA), Gisele Diez Duarte encontrou as camas empilhadas e os animais molhados de chuva, dormindo no chão frio novamente. “Tinha até uma cachorrinha, que não anda, caída na canaleta com água até o peito,”, relatou.
Atualmente, há no centro cerca de 35 animais saudáveis e 20 doentes, que dividem espaço em 14 baias, sendo oito delas individuais, para cachorros mais bravos ou perigosos, e seis coletivas.
Promessas
Após a reclamação das voluntárias, estiveram presentes no CCZ o Secretário de Governo Luiz Zaccarelli Cunha e o Secretário de Meio Ambiente José dos Reis Santos Filho. Eles explicaram que a administração está trabalhando para resolver a situação dos animais, mas a solução envolve uma série de procedimentos. “São licitações, orçamentos e prazos para que tudo fique pronto e seja feito, não é tão rápido e simples”, explicou Zaccarelli.
Para enfrentar a burocracia, algumas medidas também são tomadas por Reis. “Medicamentos, por exemplo, estamos pedindo antes de acabar o estoque porque o maior problema é a lentidão com licitações e outros procedimentos”, afirmou o secretário. Zaccarelli garantiu ainda que nesta sexta haverá uma reunião entre as Secretarias de Saúde, Administração e Meio Ambiente para acertar últimos detalhes da construção de um abrigo temporário no Centro de Gerência Animal. Já existe uma verba de R$ 150 mil liberada para a obra. “Estamos fazendo o possível, o que não dá para aceitar é que os grupos protetores fiquem dizendo nas redes sociais que o governo não se importa com os animais”, lamentou.
“O que não dá para aceitar é que a prefeitura fique fazendo promessas e não cumpra”, rebateram as voluntárias.
Soluções temporárias
De acordo com Tony Emerson Alves de Souza, gestor do CCZ, outro problema enfrentado é a falta de funcionários. “Temos um veterinário, que trabalha quatro horas por dia, além dos servidores gerais e de limpeza, fica impossível fazer mais do que já fazemos. Tem um deles chorando nesse momento porque ele faz o que pode”, afirmou Souza.
Estavam chorando também algumas das voluntárias. Uma delas, que preferiu não se identificar, pegou uma cadela que tinha as patas machucadas e levou embora para procurar um veterinário e cuidar dela em casa. Outras duas estavam alimentando um animal com a boca machucada e que precisa de ração amolecida para conseguir mastigar.
“Veja como ela come desesperada, estava aqui passando fome porque ninguém faz isso”, disse a jovem.
Enquanto nenhuma providência é tomada oficialmente, ONGs e administração acertaram um novo acordo. A partir de agora, voluntárias terão livre acesso ao CCZ para ajudar nos cuidados com os animais e um novo procedimento para limpeza e tratamento será implantado no local, para que eles não fiquem tão expostos à água durante a limpeza.
Texto publicado originalmente em 21 de junho de 2012, no G1.
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