Viuvinhas de Neymar
Xico Sá
Amigo torcedor, amigo secador, esqueça o futebol, e mire os negócios: Neymar Jr. já é do Barcelona ou de outro azarão endinheirado de última hora. Os vendilhões da Vila, aqui coloco empresários e cartolas no mesmo saco, não deixarão o menino ir embora somente em 2014 sem a parte que lhes cabe nesse tesouro da juventude.
Amigo torcedor, amigo secador, esqueça o futebol, e mire os negócios: Neymar Jr. já é do Barcelona ou de outro azarão endinheirado de última hora. Os vendilhões da Vila, aqui coloco empresários e cartolas no mesmo saco, não deixarão o menino ir embora somente em 2014 sem a parte que lhes cabe nesse tesouro da juventude.
Seria romantismo demais apostar que alguém pensasse no futebol brasileiro ou no Peixe nessa fatídica hora. Pouco importa se o alvinegro, graças ao craque, tem multiplicado a torcida e a receita com patrocínios. Pouco importa se o último dos moicanos da Baixada tem operado o milagre de levar uma legião de crianças a decidir pelo Santos na hora nobre de escolher um time.
Eis um dos momentos mais significativos da vida de um homem. O exato instante em que pende para uma agremiação. Normalmente o pai é o espelho futebolístico e o guri sai à sua imagem e semelhança.
Odiado pelos adultos e amado pelos infantes, Neymar repete aquela música de Chico Buarque para os generais da ditadura: "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta".
A ida de Neymar para o velhíssimo continente será comemo-rada por todos os pais dos pequenos torcedores ameaçados nos seus lares doces lares pelo perigo santista. Nada pior que perder, dentro de casa, essa sucessão clubística. É um desgosto miserável. Deixa quieto.
Vai Neymar e fica uma viuvez precoce nunca dantes vista na história. Nem o David Lucca, o filho do cara, vai curtir essa parada. Na primeira grande viuvez da Vila, Pelé deixou adultos enlutados, depois de servir de bandeja tudo que alguém pode conquistar para uma torcida.
Agora, na segunda grande viuvez peixeira, é bem diferente. E aqui não estamos comparando o rei com o apenas pequeno príncipe. Você é eternamente responsável por aquilo que cativa, diria o Saint-Exupérie neste momento de adeus. Neymar cativou quem desconhece os leilões de gente grande. Vai explicar para o teu filho que cada parte do craque tem um dono!
Agora, na segunda grande viuvez peixeira, é bem diferente. E aqui não estamos comparando o rei com o apenas pequeno príncipe. Você é eternamente responsável por aquilo que cativa, diria o Saint-Exupérie neste momento de adeus. Neymar cativou quem desconhece os leilões de gente grande. Vai explicar para o teu filho que cada parte do craque tem um dono!
Não adianta, porém, fazer um coro "não se vá", como no clássico brega da dupla Jane & Herondy nos anos 1980. Sejamos realistas. É o que pedem os austeros cavaleiros das mesas redondas. Já era. Perdeu criançada, ganhou playboyzada. E que não se arraste mais essa novela ludopédica que parece escrita pela Glória Perez.
Cada jogo a mais de Neymar tem sido um capítulo melancólico. O menino, que já fez o papel do imperador do "dia do fico", agora parece o velho Silvio Caldas (1908-1998), conhecido como o cantor das despedidas. Fazia show de saideira a cada semana.
Caldas, parceiro de bambas como Cartola e Wilson Batista, tem a trilha das antigas mais apropriada para o momento: "Adeus, cinco letras que choram". Texto publicado original-mente em 25 de maio de 2013, no jornal Folha de São Paulo.
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