Ecad - só sei que nada sei
Pedro Tourinho
E o Marcio do Val, gerente de relações institucionais do Ecad, usou este espaço na última semana para defender seu ganha-pão, dizendo que “reinventar a roda pode não ser a melhor solução” para o Ecad. Pois bem, pergunto: melhor solução para quem?
E o Marcio do Val, gerente de relações institucionais do Ecad, usou este espaço na última semana para defender seu ganha-pão, dizendo que “reinventar a roda pode não ser a melhor solução” para o Ecad. Pois bem, pergunto: melhor solução para quem?
Temos um país inteiro que não sabe para onde a roda do Ecad gira. E esse é o grande ponto da questão: Márcio está certíssimo em seu artigo quando questiona meu conheci-mento sobre o funcionamento do Ecad, realmente sei muito pouco sobre como esse ente privado de monopólio público funciona. Nem eu, nem a imensa maioria dos autores, produ-tores de eventos, e nem ninguém sabe como o Ecad fun-ciona.
Portanto, para dar continuidade à discussão, e socratica-mente partindo do ponto de que “só sei que nada sei”, aproveito o espaço para fazer alguns questionamentos ao solícito gerente de relações institucionais do Ecad, senhor Márcio do Val.
Márcio afirma que a PLS 129/12 “interfere no direito do autor de estabelecer o preço pelo uso de suas obras”. Primeiro, que hoje autor nenhum define preço pelo uso de suas obras, isso é feito na assembleia do Ecad, composto por sociedades representativas, que têm numero de votos de acordo com sua arrecadação, e que, por conta do peso da execução de musicas internacionais, representam, na verdade, grandes editoras multinacionais, que têm carta branca para decidir sem consultar seus autores. Ou seja, o autor brasileiro não é consultado e, mesmo que fosse, não teria peso para decidir.
Com a PLS 129/12, o estabelecimento do preço continuaria com a gestão privada, mas teríamos um órgão para trabalhar em cima desses desequilibrios, e para assegurar que todas as partes seriam ouvidas. Mas, sem entrar nesse ponto, pergunto, como esses valores são definidos hoje? Qual a equação?
Como é definido quanto vai se cobrar de um casamento, por exemplo? Ou de um grande festival de música? Vivi pessoalmente situações em que numa canetada o ‘fiscal’ do Ecad reduziu o valor a ser cobrado em 80%. Qual o critério para que isso aconteça? Essa falta de conhecimento não estimula a corrupção?
Como é definido quanto vai se cobrar de um casamento, por exemplo? Ou de um grande festival de música? Vivi pessoalmente situações em que numa canetada o ‘fiscal’ do Ecad reduziu o valor a ser cobrado em 80%. Qual o critério para que isso aconteça? Essa falta de conhecimento não estimula a corrupção?
Outro ponto interessante levantado pelo Márcio é a afirma-ção de que o Ecad não precisa de fiscalização, pois os balan-ços estão todos disponíveis, e que está tudo ok com a Receita Federal e INSS. Pois bem, eu pergunto, e isso é sufi-ciente? Até ouvi dizer que os contadores que analisaram a prestação de contas do Ecad tinham encontrado irregularida-des, como, por exemplo, o uso de dois regimes contábeis no mesmo balanço, mas não posso afirmar isso, porque não vi.
Mas a fiscalização a que me refiro é administrativa e moral, e não contábil. Como se explica que se paguem bônus milionários aos executivos do Ecad, que dizem estar, em média, a 25 anos nos seus cargos, sem que os autores tenham conhecimento disso? Isso sem falar nos finais de semana motivacionais no Club Med de Itaparica e das suntuosas sedes do órgão em cada cidade.
Mas a fiscalização a que me refiro é administrativa e moral, e não contábil. Como se explica que se paguem bônus milionários aos executivos do Ecad, que dizem estar, em média, a 25 anos nos seus cargos, sem que os autores tenham conhecimento disso? Isso sem falar nos finais de semana motivacionais no Club Med de Itaparica e das suntuosas sedes do órgão em cada cidade.
O autor brasileiro é hoje o que paga a maior taxa de administração/arrecadação do mundo, e nada disso teria problema algum se os mesmos fossem de fato consultados, mas o que existe hoje ao redor do direito autoral no Brasil é uma rede de não-representação. Associações comprometidas com a turma da gestão do Ecad, hackeadas por grandes editoras multinacionais e com estrutura estatutária que permite que decisões sejam tomadas de forma representativa pelos representantes que não representam.
E mais, ouvi dizer, e gostaria que o senhor Marcio do Val confirmasse a informação ou não, que o Ecad cobra um custo mínimo, fixado em 50 salários, para que uma sociedade arrecadadora faça parte do seu sistema, que é um direito público.
Ou seja, só tem seus direitos autorais arrecadados no Brasil membros de sociedades que pagam uma “consumação mínima” para entrar no Ecad, o que limita o surgimento de qualquer nova alternativa para os autores, que tornam-se reféns das seculares e camaradas associações. Isso é verdade, senhor Márcio? Se não for, por favor, me esclareça.
Ou seja, só tem seus direitos autorais arrecadados no Brasil membros de sociedades que pagam uma “consumação mínima” para entrar no Ecad, o que limita o surgimento de qualquer nova alternativa para os autores, que tornam-se reféns das seculares e camaradas associações. Isso é verdade, senhor Márcio? Se não for, por favor, me esclareça.
Enfim, não cabem mais perguntas nas laudas, e paro por aqui. Realmente, senhor Márcio, são muitas dúvidas que pairam sobre o Ecad. Muitas. Em vez de desqualificar quem questiona, tergiversar no contra-ataque com meias-verdades, aterrorizar quem vocês afirmam representar e defender os direitos, vocês deveriam gastar essa energia para esclarecer, disponibilizar a informação de forma democrática e transparente para toda a sociedade, porque, sinceramente, a impressão que nos dá é que, das duas uma, ou vocês não sabem o que estão fazendo, ou não querem que a gente saiba o que vocês estão fazendo. Como são tantos anos, e pessoas tão talentosas do lado daí, tendo a crer que, infelizmente, trata-se da segunda opção.
Texto publicado originalmente em 25 de maio de 2013, no jornal Correio da Bahia, pág. 02.
Texto publicado originalmente em 25 de maio de 2013, no jornal Correio da Bahia, pág. 02.
Pedro Tourinho é publicitário e produtor cultural
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