Crítico de cinema Roger Ebert morre aos 70
André Barcinski
Crítico da Folha de São Paulo
O norte-americano Roger Ebert, o mais famoso e influente crítico de cinema do mundo, morreu ontem, aos 70 anos, de câncer. Ebert era crítico do jornal Chicago Sun-Times desde 1967. Foi o primeiro crítico de cinema a ganhar um prêmio Pulitzer, em 1975, e apresentou, por quase 30 anos, um programa na TV norte-americana com críticas de filmes. Foi também o primeiro crítico de cinema a ganhar uma estrela na Calçada de Fama de Hollywood.
Ebert sempre tentou levar a crítica de cinema ao maior número possível de pessoas. Seus programas de TV, especialmente os que apresentou por 23 anos com Gene Siskel, crítico do jornal rival, o Chicago Tribune, ajudaram a formar gerações de cinéfilos. Roger Ebert escreveu 14 livros sobre cinema (o último, a autobiografia Life Itself, saiu em 2011), deu aulas em universidades, e em 1999 criou seu próprio festival de filmes, o Ebertfest. Entre 1967 e 2012, publicou sua esperada lista de "melhores filmes do ano".
Roger Ebert conseguia falar de blockbusters hollywoodianos ou de filmes de arte iranianos com a mesma desenvoltura e clareza. Era admirado tanto por fãs de cinema de arte quanto pelo público que só queria saber de diversão e de comer pipoca. E tratava a todos com o mesmo respeito.
Uma de suas qualidades foi não fazer distinção entre dois "tipos" de cinema: ele conseguia enxergar beleza e talento tanto no cinema comercial quanto no independente. No fim dos anos 1960, Ebert teve um papel importante na defesa do cinema autoral que surgia nos EUA: elogiou diretores novatos como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, e sempre defendeu diretores considerados "malditos", como Sam Peckinpah e Samuel Fuller. Por um período, Roger Ebert escreveu roteiros para Russ Meyer, diretor conhecido por filmes "B" eróticos.
Ebert não fugia de brigas ou polêmicas. Quando o comediante Rob Schneider disse que o crítico do jornal Los Angeles Times, Patrick Goldstein, não estava qualificado para criticar seu filme Deuce Bigalow porque nunca havia ganhado um prêmio Pulitzer, Ebert escreveu: "Rob, eu já ganhei um Pulitzer, e garanto: seu filme é uma porcaria".
Em 2002, Roger Ebert foi diagnosticado com câncer na tireoide e fez uma cirurgia para retirar o tumor. Quatro anos depois, outra cirurgia o deixou sem parte do queixo e com problemas na fala.
Continuou publicando críticas, escrevendo no Twitter e em seu blog, onde postou um texto sobre sua morte iminente: "Sou grato pelo dom da inteligência, e pela vida, amor e riso. Não dá para dizer que não foi interessante". Ebert deixa a esposa, Chaz, e milhões de fãs que aprenderam a gostar de cinema com ele. Texto publicado originalmente em 05 de abril, no jornal Folha de São Paulo, caderno Mundo.
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