Nelson Cadena: Implodir o Centro de Convenções
Muita areia para nosso caminhão. Foi esse o sentimento que tive ao visitar a badalada Feira Internacional do Chocolate recém-realizada, em espaço acanhado, diga-se de passagem. O que era para ser um grande evento transformou-se num inferno, um desconforto total para milhares de baianos, iludidos como eu de que podemos participar, visitar feiras temáticas, ou de negócios, curtir um programa em família de fim de semana. Impossível!
A verdade é que em Salvador armengamos eventos porque não temos equipamentos adequados para essa finalidade, e o Centro de Convenções é, de todos eles, com certeza, o menos funcional. Está na hora de pensar soluções radicais, ou então empurrar os problemas com a barriga, anos e anos, e continuarmos a conviver com a ideia de um espaço em permanente estado de sucata, para desgosto e contratempo dos usuários.
Há mais de 30 anos que não se constrói nesta terra um espaço decente para sediar eventos e os que temos (Centro de Convenções, Parque de Exposições e os finados Aeroclube e Parque Aquático) não atendem a atual demanda e vivem um estágio de decadência acentuada.
O Parque de Exposições ainda tem jeito, mas o Centro de Convenções não. Seria necessário um investimento, imagino, de algumas dezenas de milhões de reais, apenas para reformar, sem nenhuma proposta de ampliação, o que esta aí: uma estrutura carcomida com ferrugem exposta em todos os níveis, vidros das escadas de emergência eternamente quebrados, escadas rolantes do tempo da onça permanentemente quebradas, ar-condicionado subdimensionado, espaços envelhecidos e sucateados, goteiras por toda parte, falta de elevadores, banheiros sem condições de uso, estacionamentos sem conservação, nem a grama é aparada, e um serviço que não vamos aqui descrever. Quem frequenta feiras e formaturas sabe do que estou falando.
De coração aberto, me parece que a solução para o Centro de Convenções é colocar abaixo o equipamento. Implodir mesmo. E construir outro no mesmo local, ou em área menos exposta ao salitre e de manutenção menos onerosa, mais funcional e menos elefante branco.
Quem sabe através de uma parceria público-privada? Parece uma proposta radical, mas se você refletir direito verá que não há outra alternativa. Ou o Estado faz uma plástica e uma lipo no equipamento de dez em dez anos, a um custo-beneficio de bolso furado, expondo a monstruosidade dos remendos (o tempo é inclemente), ou bota abaixo mesmo o que tem. Assume o ônus da iniciativa e as críticas da mídia, que vai cair matando, mas resolve de uma vez por todas. Um dia isso terá de ser feito, por que não agora que chegamos a um ponto crítico? Sem solução à vista, nem a perder de vista.
O Centro de Convenções já foi bonitinho e ordinário. Hoje é feio e ordinário. Já foi uma referência de moderna arquitetura, plantado em frente à praia, com dunas em volta e o mar da Baía de Todos os Santos como moldura. Acho que seus idealizadores pecaram na escolha dos materiais; não sei se não havia outras opções na época, ou não atendiam o projeto arquitetônico de vanguarda que o inspirou.
Hoje é o quê? Uma sucata velha, desconfortável, arrodeada de prédios, sem nenhuma condição de sediar eventos para o grande público. E sem nenhum valor histórico. E a sua manutenção do jeito que está só compromete o turismo de negócios, que tende a se esvaziar. Vamos tirar as fotografias de direito, fazer um book bonitinho, com fotoshop à altura, para um dia contarmos a sua história e encerrar de vez esse capítulo, implodindo o edifício e partindo para outra. Os baianos e turistas só têm a agradecer. Texto publicado originalmente em 13 de julho de 2012, no jornal Correio da Bahia.
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