quarta-feira, 30 de março de 2011

O linchamento de Maria Betânia

Lei Rouanet
O linchamento de Maria Betânia
Por Caetano Veloso em 29/3/2011
Reproduzido de O Globo, 27/3/2011; título original “Betânia”, intertítulos do Oi
Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal? Será que consideram a corja que se "expressa" na internet uma tribo indígena? Inimputável? E cadê a Abin, a PF, o MP? O MinC não é protegido contra ameaças?
Podem dizer que espero punição porque o idiota xinga minha irmã. Pode ser. Mas o que me move é da natureza do que me fez reagir à ridícula campanha contra Chico [Buarque] ter ganho o prêmio de Livro do Ano. Aliás, a Veja (não, Reinaldo, não danço com você nem morta!) aderiu ao linchamento de Bethânia com a mesma gana. E olha que o André Petry, quando tentou me convencer a dar uma entrevista às páginas amarelas da revista marrom, me assegurou que os então novos diretores da publicação tinham decidido que esta não faria mais "jornalismo com o fígado" (era essa a autoimagem de seus colegas lá dentro). Exigi responder por escrito e com direito a rever o texto final. Petry aceitou (e me disse que seus novos chefes tinham aceito). Terminei não dando entrevista nenhuma, pois a revista (achando um modo de me dizer um "não" que Petry não me dissera – e mostrando que queria continuar a "fazer jornalismo com o fígado") logo publicou ofensa contra Zé Miguel [Wisnik], usando palavras minhas.
Política do corinho
A histeria contra Chico me levou a ler o romance de Edney Silvestre (que teria sido injustiçado pela premiação de Leite derramado). Silvestre é simpático, mas, sinceramente, o livro não tem condições sequer de se comparar a qualquer dos romances de Chico: vi o quão suspeita era a gritaria, até nesse pormenor. Igualmente suspeito é o modo como Folha, Veja e uma horda de internautas fingem ver o caso do blog de Bethânia. O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: "É preciso defender os fortes contra os fracos." Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa.
A Folha disparou, maliciosamente, o caso. E o tratou com mais malícia do que se esperaria de um jornal que – embora seu dono e editor tenha dito à revista Imprensa, faz décadas, que seu modelo era a Veja – se vende como isento e aberto ao debate em nome do esclarecimento geral.
A Veja logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede. Rede, aliás, que Bethânia mal conhece, não tendo o hábito de navegar na web, nem sequer sentindo-se atraída por ela.
Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano [Vianna] como uma ampliação desse trabalho. De repente vemos o Ricardo Noblat correr em auxílio de Mônica Bergamo, sua íntima parceira extracurricular de longa data. Também tenho fígado. Certos jornalistas precisam sentir na pele os danos que causam com suas leviandades. Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto "máfia do dendê", expressão cunhada por um tal [Claudio Julio] Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um Verdade tropical). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.
Vício arraigado
O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link.
Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente? Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza.
Houve o artigo claro de Hermano Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão. Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir. Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): "Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?"

Exposição O Ateliê de Carybé

Está em cartaz a partir do dia 1º a exposição que comemora o centenário de nascimento do artista argentino radicado na Bahia, Hector Julio Páride Bernabó, conhecido como Carybé, completados em 7 de fevereiro de 2011, o homenageado da mostra O Ateliê: Carybé 1911-2011, no Centro Cultural Solar Ferrão (Pelourinho, Centro Histórico de Salvador).
Carybé deixou várias obras inacabadas, das quais 17 são apresentadas nesta mostra. A exposição agrupa ainda objetos de arte, livros e peças do mobiliário do ateliê do artista, dentre outros.
O Ateliê: Carybé 1911-2011
De 1º de abril (19h) a 05 de junho de 2011
Centro Cultural Solar Ferrão, no Pelourinho (Centro Histórico de Salvador, Rua Gregório de Mattos nº 45)
Telefone: 0/xx/71/3117-6357
De segunda a sexta, das 10h às 20h; aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
A entrada é gratuita

Começa na França julgamento de polêmico caso dos anos 80

Da France Presse, em Paris
Após mais de 30 anos, teve início nesta terça-feira (29) em Paris o julgamento do médico alemão Dieter Krombach, de 75 anos, acusado pelo assassinato da filha de sua mulher, Kalinka, na presença do pai da vítima, André Bamberski, de 73 anos.
Dieter Krombach, julgado à revelia pela justiça francesa em 1995, que o condenou a 15 anos de prisão, chegou ao tribunal caminhando com dificuldade e auxiliado por uma bengala. Krombach não olhou para André Bamberski, que o persegue desde 1982 e não hesitou em sequestrá-lo na Alemanha para que o padrasto de sua filha fosse julgado na França.
Kalinka tinha 14 anos em 10 de julho de 1982 quando foi encontrada morta na cama, na casa em que morava com a mãe e o marido desta em Lindau, no sul da Alemanha. A necropsia não conseguiu esclarecer o motivo da morte, já que a adolescente estava em perfeito estado de saúde.
Análises no corpo da vítima revelaram uma série de elementos que colocaram em dúvida as explicações de Krombach sobre as horas prévias à morte da adolescente.
Histórico
Em um primeiro momento, Dieter Krombach afirmou ter aplicado uma solução à base de ferro para que a jovem se bronzeasse mais rápido. Depois disse que Kalinka tinha anemia. A Justiça alemã considerou as provas insuficientes e arquivou o caso em 1987, mas a França o julgou em 1995 e o condenou à revelia a 15 anos de prisão - pena máxima para o caso - por "violência voluntária que provocou homicídio culposo".
A França pediu a extradição em 2004, mas a Alemanha afirmou que já havia julgado o caso. Por este motivo, André Bamberski decidiu sequestrar o médico em 17 de outubro de 2009 em sua casa de Scheidegg. Dieter Krombach apareceu algemado perto do tribunal de Mulhouse, leste da França. O episódio que parece retirado de uma cena de filme permitiu à Justiça francesa prender Krombach e organizar um novo julgamento, que deve prosseguir até 8 de abril, para tentar esclarecer as misteriosas circunstâncias da morte de Kalinka.
"Para Krombach a perspectiva de ser julgado é insuportável, mas desta vez não escapará", disse Laurente de Caunes, advogado de Bamberski. Um dos advogados de defesa de Krombach, Philippe Ohayon, vai pedir a anulação do julgamento, alegando as circunstâncias nas quais o médico foi levado para o território francês.
O médico foi condenado em 1997 na Alemanha por ter violentado uma paciente.

Para começar bem o dia, tem nova apostila no site de Pablo Stolze

Para começar bem o dia, visitem o site do juiz e professor Pablo Stolze: http://www.pablostolze.com.br/
No site tem nova apostila de Parte Geral, atualizada e com importantes temas. A equipe de colaboradores postou também recente "nota ao novo CPC", do juiz federal e professor Salomão Viana.
Tem mais: quem não viu a palestra gratuita de Stolze sobre "A Reconstrução Legal do Direito de Familia", ela já está no ar, na primeira página do site, disponivel para todos vocês!