domingo, 11 de março de 2012

Seis presos serram grades e fogem de delegacia em Conceição do Almeida (BA)

Seis presos fugiram da delegacia do município de Conceição do Almeida (a 150 km de Salvador), por volta das 18h30 deste sábado (10), de acordo com a Polícia Civil.
Os presos Carlos Antônio da Anunciação, Jairo Macedo de Souza, José Raimundo Lima, Rafael Silva da Conceição, Reinaldo Oliveira dos Santos e Silvano de Almeida conseguiram escapar após serrarem as grades da cela. Segundo o delegado Nei Brito, eles usaram uma corda feita de lençol conhecida como "Teresa", e chegaram ao pátio da delegacia.
No momento da fuga, apenas um policial estava de plantão. A cadeia abriga 19 presos, mas tem capacidade para apenas dez.
Até as 15h deste domingo, nenhum fugitivo havia sido encontrado.

Morrer na praia

Malu Fontes
Duas mortes, dois assassinatos, ocorridos em um intervalo de menos de uma semana, em Salvador, traduzem o cenário de convulsão social e de insegurança em que a cidade e seus moradores vivem mergulhados. Tarsis Santos Lima, 17 anos, assassinado no dia 02 de março na Passarela de um shopping enquanto se deslocava para trabalhar; Natália Penhalosa Duarte, 19 anos, assassinada com um tiro na cabeça, no dia 06 de março, por um assaltante na praia.
Na TV, a propaganda oficial do Governo Federal diz há algum tempo que “país rico é país sem pobreza”. Não, ninguém há de questionar que o Brasil ainda tem e terá por muito tempo bolsões gigantescos de pobreza, apesar das transformações, para melhor, em termos de desenvolvimento econômico também decantadas dia sim e outro também nos telejornais que anunciam a chegada de muitos ex-pobres ao paraíso, chamado agora de Classe C.
Entretanto, o que a cobertura diária da imprensa e menos ainda da TV não dá conta é de esmiuçar as distâncias abissais que parecem ir se constituindo entre essa melhoria de vida da população e o crescimento assombroso dos índices de violência, sobretudo homicídios e latrocínios, em algumas grandes cidades brasileiras.
E Salvador está entre os casos de destaque. Por mais que a TV, até por razões comerciais de sobrevivência, anuncie uma Bahia linda e eternamente sustentada numa tal magia que cada vez parece só funcionar na tela e com trilha sonora impecável, como convencer, hoje, sem recursos imagéticos e efeitos especiais, apenas no gogó, um turista a optar por Salvador para uma temporada?
FACÃO - O sistema de transporte inexiste, a cidade é mal cuidada, as opções de lazer só mínguam e parecem restringir-se ao Carnaval e a quem gosta de axé, ir ao Centro Histórico é uma sessão de luta corporal com vendedores e pedintes inconvenientes e grosseiros e ir à praia se tornou um comportamento de alto risco.
O que parece um vendedor de cocos revela-se um assaltante armado com um facão ameaçando decepar mãos e cabeças de banhistas ao assaltá-los e usar uma máquina fotográfica ou um celular é um pedido explícito para receber um tiro no meio da testa. Qual o conceito de turismo numa cidade mergulhada neste contexto? Se assim, logo um slogan do tipo “venha a Salvador e ganhe uma chance de morrer na praia” fará mais sentido do que convidar um turista para um passeio no Abaeté. Aliás, quem se atreveria?
VOYEUR - Quanto ao assassinato do, no ou nas imediações do shopping, o retrato da barbárie que o circunda é o mesmo que traduz a da praia. O que o motivou, diz-se, teria sido a tentativa de ‘seguranças’ das imediações de impedirem um assalto a uma mulher na passarela que dá acesso ao estabelecimento, coisa corriqueira no local, também se diz.
Em reação a um desses episódios, ‘homens de preto’ teriam atirado a esmo e matado Tarsis Santos, vendedor de milho e a uma semana de alistar-se no Exército. A moral dos dois fatos e das repercussões noticiosas que norteiam os dois casos é: os mais pobres devem evitar a passarela do shopping para fugir do risco de serem mortos por seguranças ou assaltados por ladrões e os turistas e banhistas devem evitar as praias de Salvador a qualquer custo, pois, abandonadas, sem infra-estrutura e sem segurança, podem ser um convite à morte pela violência.
Não, ninguém quer morrer na praia. O programa seguro que parece restar é bancar o voyeur diante dos veículos de comunicação consumindo as mais novas estripulias sexuais e amorosas do prefeito da cidade.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 11 de março de 2012, no jornal A Tarde, Salvador/BA.