quarta-feira, 12 de março de 2008

Piaf - um hino ao amor

Assisti ao filme há dois meses, não sou perita em crítica e não gosto de recomendar livros, filmes, peças etc. Mas tudo tem a primeira vez. Então recomendo. A todos. Volta e meia as imagens me tomam de surpresa. Algumas merecem destaque: "Padam" - diz a personagem (que interpretação!), dirigindo-se aos músicos. Impossível transcrever. Postei o comentário abaixo, concordo com o autor - a cena da luta...
Comentário de Rodrigo Rosp (1) Piaf - Um hino ao amor é um filme feito para ser emoção pura. E, assim, ele funciona maravilhosamente. É difícil algum espectador se manter alheio à história trágica, aos desafios e sofrimentos incessantes que acompanham a personagem desde os primeiros momentos da sua vida até o derradeiro. Apenas uma pessoa insuportavelmente chata poderia barrar toda essa carga de emoção genuína e questionar o filme de forma racional.
Pois bem, eis-me aqui para isso. Afinal, em meio a esse turbilhão de emoções, há alguns detalhes que impedem que Piaf (o filme) seja tão inesquecível quanto Piaf (a cantora) e se torne uma obra-prima. Os dois principais problemas da produção estão estreitamente relacionados. Um deles é a excessiva duração: são duas horas e vinte. Não seria nada difícil excluir (a cena da luta, por exemplo) uns 30 desses 140 minutos sem prejuízo algum à obra – ao contrário, com benefícios ao ritmo e ao roteiro. Aí surge o segundo problema: a tentativa de mostrar os dramas e as tragédias da protagonista passa do que seria natural. Parece que algumas cenas estão lá só para acentuar esse sofrimento, o que não seria necessário, pois ele já é grande o suficiente. A seqüência em que ela tem a amiga levada embora por policiais é um exemplo: fica solta no roteiro, só está ali para ser "um drama a mais". A soma desses pequenos excessos são o ponto negativo de um filme que tem muito mais acertos do que erros. Para entrar nos pontos positivos, é preciso dizer que o grande destaque tem nome e sobrenome: Marion Cotillard. A sua personificação de Edith Piaf é espantosa. Tudo funciona com a máxima naturalidade: os gestos, a voz, o olhar, a expressão corporal (sempre encolhida, voltada para si, parecendo temer qualquer exposição). Com essa enorme força visual, a composição da protagonista é simplesmente perfeita – uma mulher com medo das pessoas, de se aproximar, de se ferir, que consegue extrapolar tudo isso com espontaneidade, humor e uma voz que vai conquistando, um a um, aqueles que a cercam. Voltando aos acertos do filme, na maior parte do tempo o drama consegue ser contado no tom certo.
A parte inicial, quando ela ainda é menina, concentra maior carga dramática e é executada com rara habilidade. Em outro momento de grande emoção, o belíssimo epílogo fornece boa quantidade de lágrimas ao acender das luzes. Nesse instante, não são, no entanto, emoções vãs ou artificiais. A emoção é construída com lirismo e sinceridade. Pois, que há arte em Piaf, disso nem mesmo o maior chato pode duvidar.
Direção: Olivier Dahan. Roteiro: Olivier Dahan. Intérpretes: Marion Cotillard (Edith Piaf); Sylvie Testud (Mômone); Clotilde Courau (Annetta Gassion); Jean-Paul Rouve (Louis Gassion); Pascal Greggory (Louis Barrier); Marc Barbé (Raymond Asso); Caroline Sihol (Marlene Dietrich); Emmanuelle Seigner (Titine); Catherine Allégret (avó); Gérard Depardieu (Louis Leplée); Jean-Pierre Martins (Marcel Cerdan). França/Reino Unido/República Tcheca. 2007. (140 min.)
Créditos das imagens aqui:

James Stewart e a bela Grace Kelly

Cena de "Janela indiscreta" (Rear window) - 1954

Foto de Norman Jean Roy

Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: John Michael Hayes. Fotografia: Robert Burks. Produção: Alfred Hitchock. Música: Franz Waxman. Direção de fotografia: Robert Burks. Direção de arte: J. McMillan Johnson e Hal Pereira. Figurino: Edith Head. Edição: George Tomasini. Intérpretes: James Stewart (L. B. Jeffries – Jeff); Grace Kelly (Lisa Carol Fremont); Wendell Corey (tenente Thomas J. Doyle); Thelma Ritter (Stella); Raymond Burr (Lars Thorwald); Judith Evelyn (Lonelyheart); Ross Bagdasarian (compositor); Georgine Darcy (Torso); Sara Berner; Frank Cady; Rand Harper; Irene Winston (Anna Thorwald). Estúdio: Paramount Pictures. Distribuição: Paramount Pictures / Universal Pictures. 1954. 107 min. Baseado em estória de Cornell Woorich.

Em 1998, refilmagem protagonizada por Christopher Reeve e Daryl Hannah.

Sinopse

Em Greenwich Village, Nova York, o fotógrafo profissional L. B. Jeffries (James Stewart) está confinado em seu apartamento por ter quebrado a perna enquanto trabalhava. Como não tem muitas opções de lazer, vasculha a vida dos seus vizinhos com um binóculo, quando vê alguns acontecimentos que o fazem suspeitar que um homem matou sua mulher e escondeu o corpo. Com a ajuda de sua noiva Lisa (Grace Kelly), Jeff tenta provar que está certo.

Curiosidades

O set de filmagem foi baseado em um quarteirão de Nova York; o filme inclusive indica o endereço do apartamento de Jeffries - 125 7th Street -, mas este não existe realmente. Com pouquíssimas exceções, quase todas as filmagens foram feitas tendo como ponto de vista o apartamento de Jeffries. Hitchcock dirigiu somente do apartamento de Jeff, então todos os atores que atuavam nos apartamentos localizados em frente, usavam fones de ouvido para escutar as instruções do diretor. Hitchcock surge aos 26 minutos, ajustando o relógio do compositor, que mora no prédio em frente ao apartamento de Jeffries. Ross Bagdasarian era um compositor na vida real. A trilha sonora feita por Franz Waxman recicla músicas de outras duas feitas por ele: Um lugar ao sol (1951) e No caminho dos elefantes (1954). Em 1954, quando "Janela indiscreta" foi lançado nos cinemas, a distribuição coube à Paramount. Já em 2000, a nova cópia remasterizada foi da Universal Pictures. O filme esteve inacessível ao público em geral durante décadas, porque Hitchcock comprou de volta os direitos de cinco de seus filmes e os deixou de legado para sua filha. Estes filmes ("Os cinco filmes perdidos de Hitchcock") foram relançados em 1984, quase 40 anos desde o primeiro lançamento. Os demais filmes do pacote eram Festim diabólico (1954), O homem que sabia demais (1956), Um corpo que cai (1958) e O terceiro tiro (1955).

Outras fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rear_Window;http://www.adorocinema.com/filmes/janela-indiscreta/janela-indiscreta.asp

Inéditas mostram Tim Maia funkeiro

Folha de São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008 – Ilustrada Divulgação

Tim Maia canta na época em que aderiu à seita Universo em Desencanto; novas músicas marcam o fim dessa fase mística

Para o produtor Kassin, neste período o cantor "estava com a voz como nunca esteve, por não estar usando drogas" Nelson Motta, biógrafo do cantor, considera as músicas do "Racional 3" iguais ou superiores às canções dos dois discos anteriores

Bruna Bittencourt Colaboração para a Folha Luiz Fernando Vianna Da reportagem local

Um mistério da música brasileira está, ao mesmo tempo, sendo resolvido e ficando mais confuso. Em se tratando de Tim Maia, não surpreende.Está, enfim, provado que existe um "Racional 3". Ou seja, um conjunto nunca lançado de oito músicas da fase mística do cantor -a da filiação à seita Universo em Desencanto e sua Cultura Racional. Muito já se falara disso, mas pouca gente conhecia o material.A Folha revelou, há quatro meses, o projeto de um CD com essas faixas. Cinco delas, ainda sem os metais e as cordas que o produtor Kassin e os músicos Paulinho Guitarra e Serginho Trombone (ambos participantes das gravações em, possivelmente, 1976) estavam acrescentando, caíram na internet.

O vazamento - ilegal, pois não há pagamento de direitos- irritou envolvidos na história e aumentou o imbróglio que precisa ser desatado para o CD nascer.Mesmo estando incompletas, tais quais o cantor deixou num estúdio logo após se desencantar com o universo da seita e abandoná-la, as faixas são ótimas e reveladoras."Já apontam para coisas que ele veio a fazer depois, com faixas disco e outras funk mesmo, funk rasgado", assinala Kassin, para quem "Racional 3" pode ser melhor do que os lançados em 1975 e 76.

"Ele estava fazendo essa transição", reforça Nelson Motta, que diz só ter sabido das inéditas depois de concluir a biografia "Vale Tudo". Motta também vê o "3" como igual ou superior aos outros dois.Foi em seguida que o cantor lançou seus álbuns assumidamente de discoteca, como "Tim Maia" (1977), de "Pense Menos" e "Feito pra Dançar", e "Tim Maia Disco Club" (1978), de "Sossego".O produtor Dudu Marote teve acesso em 2000 às cinco faixas que circulam na internet e resolveu batizá-las, pois Tim as deixara sem nome. A suavemente disco "Escrituração Racional" corresponde a duas faixas, pois são takes (não muito) diferentes, nos quais se destaca o falsete do cantor no refrão. "Ele estava com a voz como nunca esteve, por não estar usando drogas. Cantava absurdamente", exalta Kassin.

Essa boa forma também se confere em "Universo em Desencanto Disco", em que ele sustenta com suingue a melodia de poucos acordes - e ele se orgulhava disso, brincando que, com uma música de Tom Jobim, faria dezenas. Ainda que discretos, os metais já aparecem em "Brasil Racional" e "You Gotta Be Rational". Na primeira, ele lê trechos do livro "Universo em Desencanto" em cima de uma base funk. Na segunda, sobre uma linha também funkeada, ele manda mensagens "racionais" em português e inglês.

A Folha ainda teve acesso a quatro músicas que Tim fez para divulgar a Cultura Racional -espécie de jingles- e, pelo que se sabe, não faziam parte do "3". Essas estão completas, com coro, metais etc. Há, por exemplo, um samba-enredo e uma marcha que fariam sucesso em bailes de Carnaval.