sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vítimas da moda: epidemia de vestidos trapézio, franjões e bolsões

Malu Fontes
Revista Metrópole n. 08, janeiro de 2008
Todo dia elas saem todas sempre iguais... A afirmação poderia ser mais uma referência torta à canção "Cotidiano", de Chico Buarque, mas, infelizmente, é apenas um diagnóstico sarcástico do estilo, ou melhor, da falta de estilo, da mulherada urbana. Justiça se faça: a mulherada que se acha antenada e pensa que estar na moda é ser cover e over de e em tudo de ruim que a indústria do vestuário ou a falta de gosto da feminice um tantinho mais abastada dita e ostenta nas páginas das revistas ou na tela da TV. Nos últimos meses, com a proximidade do verão, a cidade, sobretudo os points freqüentados por quem tem na carteira uns trocados que permitem a renovação do guarda-roupa, está infestada, literalmente por uma orda de mulheres todas vestidas do mesmo jeito e com o mesmo acessório. O fenômeno pode ser descrito como uma epidemia fashion e os editoriais de moda há muito têm um adjetivo para aplicar a quem sucumbe a esse tipo de falta de personalidade: fashion victms. Em bom Português: vítimas da moda. Em outras palavras: gente incapaz de escolher para si o que lhe cai bem sem copiar o que vê pela frente e que acredita que estar na moda é aderir acriticamente ao que está nas vitrines, no corpo da mocinha da novela do horário nobre ou das mulheres hit, como Ivete Sangalo e Joelma, a estrela sobre botas esquisitíssimas da Banda Calypso. A epidemia é formada por mocinhas, mulheres e até mesmo senhorinhas de meia idade que se agarram à vã e desesperada crença de que um botox aqui e uma esticadinha ali vão lhes garantir uma permanência eterna na casa dos 20. Em comum, apesar dos desníveis da faixa etária, o mesmo modelinho de vestido ou batinha, sempre associado a uma bolsona enoooorme, preferencialmente prateada de tal modo que ofusca os olhos mais sensíveis e onde cabe com folga todo o estoque made in China do tabuleiro de qualquer camelô, seja da Avenida Sete, em Salvador, ou da 25 de março, em São Paulo, quando chegam os agentes do rapa. Aliás, custa a crer que o tamanho dessas bolsas não foi inspirado no style dos sacoleiros. Mais estranho ainda é o fenômeno da falta de noção que acomete as mulheres mais baixinhas e as leva a aderir a tal modismo. Quando aliam a tal bolsa-gigante a uma mimosa sandalinha rasteira, impossível fugir da associação imediata à figura de uma anã. Se usam um saltão desses de acrílico ou daqueles pesadões de madeira que parecem devastar um tronco da mata atlântica para a construção da base/plataforma, ficam com cara de egüinha pocotó bípede das alamedas de griffes dos melhores shopping centers da cidade. Voltando aos tais vestidinhos e batinhas que todo mundo resolveu ter um e usar no mesmo dia e no mesmo lugar, ambos comumente atendem, nos editoriais de moda e na boca das vendedoras que aprendem a repetir o termo sem saber do que tão falando, os tais atendem pelo nome de 'trapézio' e suas estampas são de três sub-tipos: há as de inspiração étnica, os de inspiração floral e as que se inspiram em grafismos daqueles que gente entediada fica rasbicando em reuniões chatas. Para compor o tipo completo, está também na última moda, o franjão a la Ivete Sangalo (independentemente do tipo, da textura, do volume e da qualidade do cabelo e também à revelia do tipo de alisante usando na escova progressiva, definitiva ou que tais). E independentemente também, claro, da idade da dona. E aqui entre nós: tem coisa mais grave que uma senhorinha de franja, franjinha ou franjão? E quem nunca foi vítima de uma pegadinha involuntária ao estar em um corredor de shopping ou num restaurante japonês da moda (sim, os restaurantes japoneses da moda são o habitat preferido do tipo descrito nessa coluna, ou seja, aquele fantasiado de vestidinho trapézio – melhor ainda se vier acompanhado de um bom e velho legging por baixo, sobretudo naquelas em que as celulites ficam visíveis até mesmo SOBRE o tecido): uma mulher de costas com toda a pinta e modos de vestir de uma típica adolescente de 17. De repente, ela vira-se e o observador leva um susto, acreditando que assistiu a uma transformação do tipo túnel do tempo. Trata-se de uma senhorinha há muito passada dos 50. Ao lado dessas espécies costuma serem vistos uns exemplares masculinos que fazem a linha gatalho (gato velho pra caralho): uma calça mais esportiva com uma camisa de um tipo de malha que está mais para lycra suplex ou neoprene, daquele do qual é feito a roupa dos surfistas. No mínimo uma malha mais encorpada, mas sempre justíssima, para definir o peitoral, que fique claro. Uma coisa assim meio peru-pavão na versão bípede e de meia idade. Não, a visão, seja de um tipo ou do outro, não é das mais agradáveis. Sim, não é nada recomendável, em tempos politicamente corretos, ficar prestando atenção a essas idiossincrasias. Que 2008 traga a todos um tiquinho de sensatez, brindando as vítimas da moda com alguma capacidade de escolher uma roupa que lhes dê algum toque de personalidade, estilo e marca pessoal. Na falta disso, que venha um quê de cegueira estética para que se pare de achar tudo isso tão ridículo. E, diante das tragédias e escândalos de todos os tipos em 2007, nada melhor que começar 2008 falando de frivolidades. Como diria Oscar Wilde: dê-me o supérfluo que abro mão do essencial.

As imagens e seus usos

Malu Fontes
A Tarde, domingo, 17 de fevereiro de 2008
TELEANÁLISE
Desde o Carnaval, em diferentes programas jornalísticos de sua grade, a Rede Record vem exibindo uma matéria feita durante o Carnaval de Salvador pela jornalista Cristina Miranda. O tema é uma sucessão de agressões físicas flagradas pelas câmaras da emissora em diferentes pontos do circuito da festa. Há de tudo: foliões massacrando outros foliões com murros e em bandos, seguranças de bloco agredindo com vontade e o mais grave: policiais socando, esmurrando e distribuindo tapas no rosto contra alguns foliões que não estavam fazendo nada demais, apenas passavam no lugar errado, na hora errada. Obviamente que em uma cidade na qual o Carnaval é o principal cartão postal vendido ao turismo nacional e internacional, o desejo de autoridades, organizadores e empresários do setor é tudo, menos cena de violência. O que se quer ver veiculado são tão somente imagens que corram o mundo dando conta da festa feita de 'muita paz e gente bonita', a sucessão dos tradicionalmente repetitivos 'encontros históricos' sobre os trios elétricos e a imagem da top model Naomi Campbell soltando pomba branca do alto dos camarotes. Ironias à parte, antes de soltar pomba branca em Salvador, a modelo inglesa havia soltado a franga e todos os demais bichos em São Paulo contra um dos editores da Vogue Brasil, a quem não agrediu apenas pela intervenção da turma do deixa disso. BÁRBAROS - Nesse cenário, a cada exibição da matéria de Cristina Miranda em rede nacional, não foram poucos os que argumentaram que a veiculação era uma estratégia manipuladora, orquestrada previamente, com intenções políticas escusas para desvirtuar a beleza da festa, mostrar a cidade sob a ação de bárbaros neo-medievais e tudo isso com um objetivo espúrio: favorecer a campanha do pré-candidato da Record (leia-se o império da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD), à Prefeitura de Salvador, o apresentador de televisão e comandante em chefe do programa Balanço Geral, Raimundo Varela. A idéia seria simples: mostrar uma cidade sem ordem para melhor vender ao eleitor o de sempre, um candidato de primeira viagem travestido de salvador da pátria. Nesse disse-me-disse, algo precisa ser lembrado. Naturalmente, o Carnaval de Salvador não é feito apenas de violência. Entretanto, não se pode negar que a violência está sim, e naturalmente, presente na festa. As imagens da Record, desse modo, são, sim, registros absolutamente legítimos de fatos reais, do cenário multiforme que compõe a festa. Ou seja, não há manipulação de imagens, montagem desonesta ou invenção. Quem aparece ali apanhando ou batendo, apanhou de verdade e bateu de verdade. Não se trata de personagens nem tampouco de montagens. E cada um mostra o que quer e vê o que quer. Vale dizer que vive-se em um tempo em que uma imagem vale mais para o púbico do que as estatísticas que dão conta da diminuição da violência no Carnaval. E, paradoxalmente, tanto estatísticas como imagens dizem verdades. FIM DE CARREIRA - Quanto à Polícia, quem nunca flagrou policiais no Carnaval distribuindo tapas na cara de pretos pobres? E, infelizmente, nada mais esperado que casos de violência em uma festa em que cerca de dois milhões de pessoas estão nas ruas, muitas delas alcoolizadas e armadas, em um cenário de discriminação e apartheid socioeconômico explícito e em uma cidade onde mais de 20% da população não têm emprego e mais de 80% vivem em bairros de periferia desprovidos de quase todas as benesses que o estado poderia proporcionar, inclusive, algum lazer de qualidade durante o próprio Carnaval. Não vale escalar celebridades de quinta ou ex-estrelas em queda vertiginosa típica de fim de careira para conter na periferia aqueles que nunca terão dinheiro para entrar em um dos blocos dos circuitos oficiais da festa. Quanto aos usos das imagens como as feitas pela Record, elas são um bem necessário, para desmascarar nem que seja um tiquinho a cobertura tacanha que se faz da festa e que deixa nos leitores e expectadores a impressão de que a grande maioria dos órgãos de imprensa se transforma em suplementos e edições especiais da Emtursa, Bahiatura e afins. As agressões exibidas talvez não mudem nada, mas no mínimo constrangem um pouquinho os órgãos de segurança pública, cujos homens que vão ás ruas para manter a ordem acabam por esbofetear, de forma gratuita, o rosto de quem não está cometendo infração alguma. CRIANÇAS NA SALA - Mas é bom ter em mente que esse constrangimento, se houver, é minúsculo, atrofiado e circunstanciado, do velho tipo não vai dar em nada. Mesmo porque, qual policial vai se constranger por distribuir uma bofetada aqui e outra acolá se na mesma semana se vê, também em rede nacional, o governador do Mato Grosso, por exemplo, aconselhando suas tropas, diante de microfones da TV, a, diante de marginais, não perder tempo e atirar para matar? Num país desses, em que o estado promove, estimula e executa explicitamente a violência e em uma cidade em que em 24h se teve notícia de três linchamentos a paus e pedras, o que se aproxima é o triunfo da barbárie, com direito a transmissão espetacular em rede nacional. O máximo que se pode fazer é seguir o conselho clássico diante da TV: retirem as crianças da sala porque as imagens são fortes.

Ninguém pra julgar

Elieser Cesar
Revista Metrópole n. 08, janeiro de 2008.
Falta de jurado deixa banco dos réus vazio em Salvador
Desse jeito o bandido agradece. Se estiver em liberdade, comemora com a mesma intensidade da queima de fogos de artifícios do Reveillon e, recalcitrante, pois despido de sentimentos nobres, corre acelerado para cometer novos crimes, certo de que a Justiça, caminhado em ritmo de tartaruga, dificilmente o alcançará tão cedo, se um dia vier pegá-lo. Afinal, criminoso empedernido não pensa que será levado às barras do tribunal. Recentemente, em Salvador, houve pelo menos um caso em que o acusado de homicídio pôde, sim, festejar a lentidão da Justiça. A 1ª Vara do Júri, umas das duas existentes na comarca da capital baiana, foi obrigada a cancelar um julgamento por falta de jurado. Com isso, a cadeira mais indesejada do Salão do Júri, a do réu, também ficou vazia. E deverá continuar vazia, ao menos até março próximo, nesse caso específico: o julgamento do professor de capoeira José Venceslau Brito, que matou, com duas facadas nas costas, o eletricista e ex-presidente da associação dos Moradores do Acupe de Brotas, Mário da Silva Brito, durante uma discussão tola. Até lá, Venceslau, que aguarda o julgamento em liberdade, por ser réu primário, poderá brincar tranqüilamente o Carnaval, enquanto a família da vítima convive com o luto de uma eterna Quarta-feira de Cinzas. Porém, convém cautela àqueles que se preparam para sentar no banco dos réus, pois seria precipitado se falar “numa crise de jurados” nas duas Varas do Júri de Salvador. Claro que muita gente não gosta de ser obrigada a participar, como jurado, das longas sessões do Júri, como há também quem deteste ser mesário no feriado das eleições. Mas, em ambos os casos, não há muito o que fazer, uma vez convocado, tem que ir mesmo, sob pena sanções legais. Algumas pessoas temem ficar marcadas por aqueles que ajudaram a condenar. Algumas pessoas temem ficar marcadas por aqueles que ajudaram a condenar. Então melhor seria ficar em casa mesmo, pois, como diz o velho ditado, "boa romaria faz quem em casa fica em paz". Atualmente, existem cerca de 6 mil processos acumulados em cada uma das duas Varas da capital (na Europa, por exemplo, nenhum juiz pode acumular mais de 300 processos). Enquanto, isso, os homicídios se multiplicam na cidade (houve 967 em 2006 e, em 2007, 1.337), o que, em tese, representa mais trabalho para o Júri, a longo prazo. O juiz titular Cássio Miranda, que preside a 1ª Vara do Júri de Salvador, a mesma levada a adiar o julgamento do professor de capoeira, garante que não existe “crise de jurados”. “O que acontece”, afiança, "é uma conjunção de dificuldades, a exemplo do acúmulo de serviço a cargo dos Oficiais de Justiça, deficiência no transporte para cumprimento das diligências (há apenas uma Kombi para atender as duas Varas do Júri), pauta exacerbada de julgamentos e o final do ano, que dispersa as pessoas". Para o juiz, a melhor saída para a prestação jurisdicional com a celeridade desejada pela sociedade seria a criação de, pelo menos, mais duas Varas do Júri na Comarca de Salvador. O Tribunal de Justiça da Bahia também defende a tese de Miranda e, ao enviar, este ano à Assembléia Legislativa a proposta da nova Lei Orgânica do Judiciário, dentre outras propostas, contemplou a duplicação das Varas do Júri na capital. Contudo, os deputados estaduais aprovaram a criação de apenas mais uma Vara. Conforme Cássio Miranda, “isso é ainda insuficiente para o enfrentamento da situação atual, pois, seria razoável ter uma visão sobre o futuro, o que não se concretizou”. O magistrado lembra que Salvador, a quarta capital mais populosa do País, de acordo com o último censo do IBGE, tem o mesmo número de Varas do Júri do que Manaus (AM) e Porto Velho (RO), cuja população (de quase 400 mil habitantes) é menor do que a de Feira de Santana, o maior município do interior da Bahia. Só para efeito de comparação, Fortaleza, ainda menos populosa do que a capital baiana, conta com oito Varas do Júri. Depois de muita reclamação, a Comarca de Salvador conseguiu a designação de dois juízes auxiliares, um para a 1ª, outro para a 2ª Vara, presidida pelo juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira. As dificuldades levam as duas Varas a realizarem apenas dois júris por semana, quando o ideal seria um por dia. A máxima que diz que “a justiça só funciona para o rico” se aplica para explicar o porquê da demora nos julgamentos. Como menos de 30% das vítimas de homicídios são de classe média ou alta e a maioria é de gente pobre, em geral da periferia, que não tem o mesmo poder de cobrança e mobilização dos mais abastados financeiramente, os processos simplesmente se arrastam. PEDRA DE TOQUE - Com 516 atuações no Júri e três décadas de experiência em tribunais, o advogado criminalista Alfredo Venet Lima, de 54 anos, isenta as duas Varas do Júri de responsabilidade pela lentidão com que os acusados chegam ao banco dos réus. Para ele, a Vara do Júri sempre foi “a pedra do toque” do Judiciário baiano, como reconhece a maioria dos promotores de Justiça e criminalistas. Venet defende não somente a criação de outras duas Varas na comarca de Salvador, como também de mais um Salão do Júri. Na opinião dele, cada Vara deveria ter, no mínimo, seis serventuários, e o Estado deveria oferecer mais defensores públicos para aqueles que não podem pagar os honorários de um advogado. Venet Lima assegura que é comum se adiar julgamentos, já que são sorteados no mínimo, 15 jurados para compor o quadro dos sete que decidirão a sorte do réu e, se um único deles não comparecer, não tem Júri. "Não existe crise de jurados, pois, o jurado tem que comparecer independentemente de qualquer situação", descarta o criminalista Abdon Abbade dos Reis. De acordo com Abbade, o que prejudicou os julgamentos previstos para o final do ano foi a realização, em outubro, de um mutirão, quando chegaram a ser realizados quatro júris por semana. "Assim, o jurado ficou sem exercer as suas atividades normais de cidadão", justifica o advogado. Com mais de 500 julgamentos no currículo, Abbade também advoga um melhor apoio logístico às duas Varas do Júri, com um maior número de serventuários atendendo a cada uma delas de forma independente. Agora, já pensou num Júri sem jurado? Seria a farra dos bandidos. Neste caso, lá nas estepes geladas da Rússia, o romancista Fiódor Dostoiévski teria que mudar o nome de seu clássico universal para "Crime sem castigo". O CALVÁRIO FORENSE DE MARIA JOSÉ Aos 51 anos de idade, a funcionária pública Maria José Faustino da Silva é uma senhora com sede, com muita sede de justiça. Viúva do eletricista Mário da Silva Brito, morto a facadas, há quase dois anos pelo professor de capoeira José Venceslau Brito, morto a facadas há quase dois anos pelo professor de capoeira José Venceslau Brito, por causa de um entulho jogado num terreno, Maria José já compareceu 69 vezes ao Fórum na tentativa de levar, finalmente, para o banco dos réus, o assassino do marido. Desde a tragédia que se abateu sobre ela e o casal de filhos – e que a faz tomar tranqüilizantes para suportar seu calvário –, Maria José segue sua via-crúcis pelo Fórum Ruy Barbosa, tentando mobilizar entidades de defesa dos direitos humanos para a causa da família e encontrar advogados dispostos a levar o acusado a julgamento. Até chegou a confeccionar cartazes, faixas e camisetas estampadas com a fotografia do marido clamando por justiça. Em uma das últimas vezes em que foi ao Fórum, soube que o juiz Cássio Miranda teve que adiar o julgamento de Venceslau por falta de jurado. Mas não desistiu de sua luta quase solitária. “Voltarei quantas vezes precisar. Esse julgamento vai acontecer, para que possamos ter paz. Esse criminoso (Venceslau Brito) deixou uma mulher viúva, dois filhos órfãos, irmãos sem irmão, amigos sem o amigo. Tem que pagar por isso”, desabafa. Da morte do marido, ela extraiu uma lição: “Aprendi que a Justiça é mãe do assassino e madrasta da vítima”. Ela, agora, espera o julgamento para março. VAI PRO TRONO OU NÃO VAI? Ô, gente desconfiada é jurado! Também pudera. Como contribuem para condenar ou absolver réus (como aquela tarde do poema de Baudelaire, que desce sobre a cidade, “a alguns trazendo angústia, a paz a outros trazendo”), o jurado é uma cabra naturalmente desconfiado, que prefere ficar nos bastidores, à sombra dos tribunais, do que se expor aos holofotes dos julgamentos mais midiáticos. Afinal, bandido é um bicho vingativo e seguro morreu de velho. Para se compor um Júri, parte-se de um cadastro de cidadãos brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 21 anos e com idoneidade moral comprovada feito pelo juiz-presidente do Júri. O magistrado solicita as indicações de nomes que preencham esses requisitos a entidade de classe, sindicatos e repartições públicas. São alistados de 300 a 500 jurados nas comarcas com mais de 100 mil habitantes, e de 80 a 300 naqueles com menor população. Desse bolo são sorteadas as sete criaturas de Deus que ficarão horas e horas ouvindo discursos inflamados de doutos jurisconsultos e lamúrias de parentes das vítimas e dos próprios réus. Por isso, se seu chefe começar a fazer perguntas tipo como “Você freqüenta a igreja? Você é um homem de família? Você já fumou maconha?”, fique atento. Você pode estar sendo sondado para compor um Júri Popular. Além de muita falta de sorte, o jurado tem que ter muita paciência para aturar dezenas de horas de um julgamento de homicídio ou latrocínio. O professor e bancário Raul Carvalho Lima, de 55 anos, é uma desses jurados lacônicos. Dizendo-se disposto a participar de um julgamento sempre que convocado, ele resume sua experiência de 12 anos de Júri: “Aprendi a ser criminalista sem querer”. Mais falante, Nivaldo dos Santos Silva, de 66 anos, soube tirar proveito de seus 15 anos de jurado. Acabou se formando em Direito, mas descarta atuar como criminalista. “Pode ver. Os criminalistas andam cheios de guarda-costas. Lidar com o tipo de gente que eles lidam não é bom. Eu prefiro não ganhar esse dinheiro”, esconjura. Ele lembra que, certa vez, foi intimado na véspera de um julgamento e teve que cancelar todas as suas atividades agendadas para o dia seguinte. Resultado: cansou daquela vida de jurado e acabou conseguindo sair dela. Hoje, atua em causas cíveis e trabalhistas. De réu, quer distância, e de jurado, nem os dos programas de calouros. O JÚRI O Júri foi instituído em 18 de julho de 1822, por decreto de Dom Pedro I, para julgar apenas os crimes de imprensa. Era composto por 24 jurados. Dois anos depois passou a integrar o Poder Judiciário. A competência para julgar crimes de homicídio, infanticídio e aborto foi estabelecida pelo Código de Processo Penal, em 1941. Uma vez convocado para o Júri, já era. A presença é obrigatória e sua recusa implica em sansões como a perda dos direitos políticos e a aplicação de multa. Os coroas com mais de 60 anos estão livres do perrengue. Também são impedidos de servir ao mesmo Conselho de Sentença (corpo de jurados em juridiquês) marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, tio e sobrinho, padrasto, madrasta e enteado.

Oscar 2008

Na disputa pelo Oscar
Melhor filme Juno Onde os fracos não têm vez Sangue negro Desejo e reparação Conduta de risco
Melhor diretor Julian Schnabel (O escafandro e a borboleta) Joel e Ethan Coen (Onde os fracos não têm vez) Tony Gilroy (Conduta de risco) Jason Reitman (Juno) Paul Thomas Anderson (Sangue negro)
Melhor ator Daniel Day-Lewis (Sangue negro) Johnny Depp (Sweeney Todd – o barbeiro demoníaco da Rua Fleet) George Clooney (Conduta de risco) Tommy Lee Jones (No vale das sombras) Viggo Mortensen (Senhores do crime)
Melhor ator coadjuvante Javier Bardem (Onde os fracos não têm vez) Tom Wilkinson (Conduta de risco) Hal Holbrook (Na natureza selvagem”) Casey Affleck (O assassinato de Jesse James) Philip Seymour Hoffman (Jogos do poder)
Melhor atriz Julie Christie (Longe dela) Marion Cotillard (Piaf – um hino ao amor) Ellen Page (Juno) Cate Blanchett (Elizabeth – the golden age) Laura Linney (The savages)
Melhor atriz coadjuvante Cate Blanchett (Não estou lá) Amy Ryan (Medo da verdade) Saoirse Ronan (Desejo e reparação) Tilda Swinton (Conduta de risco) Ruby Dee (O gângster)
Melhor longa de animação Ratatouille Persépolis Tá dando onda
Melhor filme em língua estrangeira The counterfeiters (dir. Stefan Ruzowitzky - Áustria) Beaufort (dir. Joseph Cedar - Israel) Mongol (dir. Sergei Bodrov - Cazaquistão) Katyn (dir. Andrzej Wajda - Polônia) 12 (dir. Nikita Mikhalkov - Rússia)
Melhor roteiro original Juno The savages Ratatouille Conduta de risco Lars and the real girl
Melhor roteiro adaptado O escafandro e a borboleta Onde os fracos não têm vez Desejo e reparação Longe dela Sangue negro

Organizações ligadas à imprensa repudiam ações da Igreja Universal

Organizações ligadas à imprensa repudiam ações da Igreja Universal Publicado em 20/02/2008 18:10 Redação Portal IMPRENSA*
A Federação Nacional dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e demais Sindicatos do país filiados à FENAJ divulgaram uma nota nesta quarta-feira, 20, em repúdio à atitude da direção da Igreja Universal do Reino de Deus, "que desencadeia campanha de intimidação contra jornalistas no exercício da profissão".
As organizações fazem um apelo aos Tribunais e ao Superior Tribunal de Justiça, "no sentido de alertá-los para ações que se multiplicam a fim de inibir o trabalho de jornalistas em todo o país". Em nota, consideram que "o acesso e a divulgação da informação garantem o sistema democrático, são direitos do cidadão, e o cerceamento de ambos constitui violação dos direitos humanos".
A decisão da TV Record, controlada pela Universal, de veicular a foto da jornalista Elvira Lobato, da Folha de S.Paulo, é considerada pelas organizações "inadmissível, uma clara incitação à intolerância e ao uso de um meio de comunicação social de modo frontalmente contrário aos princípios democráticos, ao debate civilizado e construtivo entre posições divergentes". Para eles, a exposição da jornalista em rede nacional de televisão, apontando-a como vilã no relacionamento com os fiéis, "transfere para a Igreja a responsabilidade pela garantia da sua integridade moral e física".
O comunicado ainda exige que os responsáveis pela Igreja Universal "intervenham para impedir qualquer tipo de manifestação de intolerância contra a jornalista".Os jornalistas Bruno Thys, do jornal carioca Extra, e o repórter Valmar Hupsel Filho, do jornal baiano A Tarde, também são lembrados pelas organizações, que encaram as ações encaminhadas à Justiça com o "nítido objetivo de intimidar jornalistas, em particular, e a imprensa, em geral. Esses processos intranqüilizam e desestabilizam emocionalmente a vida dos profissionais e de seus familiares".
As diretorias dos órgãos que assinaram o comunicado sustentam que "a imprensa não pode se confundir com partidos políticos, crenças religiosas ou visões particulares de mundo".