domingo, 24 de junho de 2012

Garçom é preso sob suspeita de ter matado e esquartejado a mulher em Pernambuco

O garçom Luiz Antônio dos Santos, de 35 anos, foi preso na tarde deste domingo (24), no município pernambucano de Jaboatão dos Guararapes (a 20 km de Recife), sob suspeita de matar e esquartejar sua mulher, a professora Mirtes Juliana Silva, de 27 anos, na casa em que moravam, na noite deste sábado (23). Eles eram casados há dez anos.
Segundo a polícia, Luiz Antônio matou Mirtes a pauladas, cortou o corpo dela em várias partes e colocou os pedaços em três sacos plásticos de lixo. Em seguida, levou os sacos de ônibus para a casa da mãe dele, em Jaboatão dos Guararapes.
Ainda de acordo com a polícia, a mãe dele viu os sacos e denunciou Luiz Antonio à polícia. Ele foi preso em uma rua próxima à casa da mãe e confessou o crime, afirmou a polícia. Luiz Antônio está no Centro de Triagem de Abreu e Lima, em Recife, onde está à disposição da Justiça.
O corpo de Mirtes foi encaminhado para o IML (Instituto de Medicina Legal), na capital pernambucana.

Assaltantes roubam praça de pedágio em Santo Estêvão (BA)

O posto de pedágio da concessionária ViaBahia na cidade de Santo Estêvão (a 160 km de Salvador) foi roubado por volta das 19h deste domingo (24), no km 481 da BR-116. Segundo a assessoria da ViaBahia, quatro homens encapuzados e armados com revólveres e pistolas chegaram ao posto do pedágio em duas motos e anunciaram o assalto.
Os criminosos fugiram levando o dinheiro das quatro cabines. O valor roubado não foi divulgado e ninguém ficou ferido, segundo a polícia.

Polícia prende suspeito de matar policial militar em SP

Foi preso ontem (23) um dos suspeitos de matar o policial militar Osmar Santos Ferreira, na última sexta-feira, na zona sul de São Paulo. A vítima é um dos seis PMs mortos a tiros em ataques fora do horário de serviço na capital paulista desde o último dia 13.
Segundo a Polícia Militar, a identificação do suspeito foi possível pela coleta da impressão digital dele no veículo abandonado pelos bandidos após o ataque ao policial. O suspeito, que não teve o nome informado, estava foragido de uma penitenciária do município de Reginópolis (a 397 km de SP).
A localização do suspeito aconteceu após um denúncia anônima pelo número 181. Ele foi abordado na rua Geraldo Honório da Silva, no Jardim Reimberg. Inicialmente, ele teria mostrado documentos falsos aos policiais, mas após questionamentos acabou confessando o verdadeiro nome.
O preso foi conduzido ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde foi autuado em flagrante por homicídio doloso (quando há intenção).
Crime
O soldado Osmar Santos Ferreira estava indo para o trabalho, quando foi morto no fim da manhã de sexta, atingido por um carro. Criminosos que estavam no veículo desceram e atiraram no policial. Ele foi socorrido e encaminhado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Os criminosos fugiram e abandonaram o Space Fox cinza usado no crime na região.
Texto publicado originalmente em 24 de junho de 2012, no jornal Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano.

O sonho da blindagem própria

João Ubaldo Ribeiro
Antigamente, desde os bons tempos do Banco Nacional da Habitação, no século passado, falava-se muito no sonho da casa própria, todo mundo tinha o sonho da casa própria. Hoje, quase não se escuta mais a expressão. Imagino que é porque, como verificamos todos os dias em comerciais de televisão e pronunciamentos oficiais, o governo já resolveu o problema da moradia.
Os brasileiros (e brasileiras, vivo esquecendo a nova regra; atualmente, falou no macho, tem que falar na fêmea e, portanto, acostumemo-nos: alunos e alunas das escolas públicas, passageiros e passageiras do voo tal, cavalos e éguas do Jockey Club, cachorros e cadelas do Kennel Club, motoristos e motoristas, fisioterapeutos e fisioterapeutas, governantes e governantas, delinquentes e delinquentas, etc.), os brasileiros e brasileiras, dizia eu, agora são mostrados em filmetes radiosos, cheios de dentes, envergando trajes impecáveis e estampando nos rostos a felicidade.
Como os demais compatriotas e compatriotos seus, já moram em espaçosas casas próprias, com área de lazer, esgoto tratado, água encanada, transporte acessível, assistência médica e tudo mais que os governos fazem pelo bem público, com os quatro ou cinco meses de nossos salários que na marra afanam. Abate-se o porcentual normal de ladroagem, de desperdício e de propaganda e o que sobra, embora por vezes não muito, é rigorosamente aplicado em investimentos e serviços públicos.
O sonho da casa própria chega perto da obsolescência (perdão por estes novos parênteses, sei que são chatos e sinal de má escrita, mas é somente uma coisinha rápida: alguma entidade malévola me sugeriu escrever "obsoletibilizado", mas segurei a mão a tempo - deve ser porque, não faz muito, ouvi entrevistados na televisão dizendo "proporcionabiliza" e "originalizou", esse negócio pega), mas outro vem ocupar seu lugar, ditado pela eterna insatisfação do brasileiro, que, depois de conseguir uma casa, ainda quer ter o direito de que ninguém a invada para furtar, violentar ou matar.
Por essa razão, meu palpite, também baseado em diversas notícias e reportagens que vêm circulando, é que abraçaremos um novo sonho, bem mais moderno, qual seja o sonho da blindagem própria. O Brasil está assumindo a liderança mundial, não só na fabricação e utilização de blindagens de todos os tipos, como no desenvolvimento de tecnologias avançadas, já se prevendo a formação de uma vastíssima cadeia produtiva e comercial.
Creio que a novidade começou em São Paulo, que é onde mora o dinheiro, mas está se espalhando por todo o País. Primeiro vieram os automóveis, cujos fabricantes, em breve, certamente oferecerão (perdão mais uma vez, mas aproveito para conclamar a solidariedade dos amigos, admiradores e usuários do operoso verbo "oferecer", ora vivendo seus últimos dias esquecido e abandonado, pois que ninguém mais oferece nada e, sim, disponibiliza) modelos blindados, diretamente da linha de montagem.
E algum empreendedor pode estar pensando em fechar um convênio com o Exército, para produzir a versão civil do Urutu. Blindam-se vitrines, vidraças, guichês, portarias, bilheterias, portas, paredes e, enfim, praticamente tudo. O número de firmas especializadas aumenta, o de técnicos também, declara-se um boom do blindado. E, diz aqui um jornal, a novidade mais palpitante, no panorama geral da blindagem, é o cada vez mais cobiçado quarto do pânico.
Não basta que o edifício tenha garagem, portaria e elevador blindados e que as portas e janelas do apartamento também sejam blindadas. O indispensável agora é o quarto do pânico, bastante inspirado nos abrigos contra armas nucleares que os americanos construíam no quintal, na época da Guerra Fria. No caso dos apartamentos brasileiros, é facilmente previsível uma, digamos, mudança de paradigma.
As antigas dependências de empregadas, cada vez mais inúteis, agora terão seu espaço reservado para o quarto de pânico.Nunca vi um quarto de pânico, mas sei que o essencial, evidentemente, é total blindagem contra ataques de fora. Podem atirar, tocar fogo, meter o pé de cabra à vontade, que não entram. E, lá dentro, tudo depende da imaginação e, principalmente, do dinheiro do dono.
Água encanada e banheiro, claro, geladeira, alimentos para alguns dias, equipamento de comunicação com o exterior, ar condicionado, televisão e o que mais se queira. A ideia, me parece, é, ao acontecer no edifício um arrastão, ninguém ficar nervoso por causa de uma ameaça afinal tão corriqueira quanto um jacaré no Pantanal. Os moradores ganham tempo com suas portas blindadas e se socam no quarto do pânico durante dias, se for necessário, até se assegurarem de que podem sair em segurança.
Para os e as que têm muito medo de assaltos ou já passaram por um, as perspectivas não deixam de ser alvissareiras. A classe média deverá contentar-se com apenas um quarto de pânico básico, modelo econômico, mas capaz de enfrentar comodamente um arrastão de até uma semana. Já os ricos e ricas poderão ter, não quartos, mas apartamentos de pânico. Ou edifícios de pânico, ou condomínios de luxo de pânico, quarteirões de pânico, bairros de pânico.
O sujeito ou a sujeita que bolar e patentear um restaurante de pânico fica milionário ou milionária, porque é meio estressante o que está acontecendo com quem vai jantar fora, sabendo que vai, mas não sabendo se volta, como os que embarcavam numa caravela do tempo de Pedro Álvares. Melhor dizendo, quem souber aproveitar as oportunidades vai dar-se bem.
As perspectivas são bastante mais promissoras do que se houvesse um plano nacional de segurança pública, como muitos e muitas reclamam, sem enxergar que a blindagem gera emprego e renda, de longe superando as ações de segurança pública. E quem quiser segurança terá toda a liberdade para nunca sair do seu quarto de pânico.
Texto publicado originalmente em 24 de junho de 2012, no jornal O Globo.

Muniz Sodré é o entrevistado do Roda Viva

O jornalista, escritor, sociólogo e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Muniz Sodré será o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, amanhã (25), a partir das 22h. Um dos mais importantes e influentes pensadores brasileiros, Muniz Sodré publicou mais de cem artigos e trinta livros nas áreas de comunicação, política, cultura e antropologia.
Ele foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional (MINC) de 2005 a 2011 e é colunista do Observatório da Imprensa. Entre as obras de Muniz Sodré, estão Claros e Escuros - identidade, povo e mídia no Brasil, pela Editora Vozes; Reinventando a Cultura (Editora Vozes); O Império do Grotesco com Raquel Paiva (Editora Mauad); Reiventando a educação - Diversidade, desconolização e rede (Editora Vozes) e Cidade dos Artistas (Editora Mauad).

O teste do sofá e o garoto de Maluf

Malu Fontes
Poucas imagens do jornalismo causaram tanto alvoroço e repercussão nos últimos tempos quanto as fotografias e cenas exibindo em multiplicidades de poses o ex-presidente Lula, seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, e o nome mais associado à corrupção no Brasil nas últimas quatro décadas: Paulo Maluf. A cena soava pornográfica até mesmo para quem acredita mais em duende que em coerência política.
Lula e Maluf felizes e sorridentes, tendo ao meio um Haddad aparentemente constrangido de riso amarelado. Os três abraçados, nos jardins imperiais da mansão de Maluf, para onde o anfitrião os atraiu sob o álibi de selar e anunciar seu apoio eleitoral à chapa petista. Ofereceu uma feijoada e fez questão de encerrá-la na área verde externa do seu bunker malufista, sob o olhar de fotógrafos e cinegrafistas convocados para imortalizar o tão inusitado encontro na memória política do país.
Teste do sofá - Pragmático e sempre ancorado nos argumentos do cinismo que são peculiares à média da classe política brasileira, Maluf deu a tônica da essência das coisas quando perguntado sobre onde teriam ido parar os resquícios ideológicos partidários que separavam esquerda e direita. Segundo anunciou-se no jornalismo político, a sua resposta teria sido algo do tipo: já não existe nem direita, nem esquerda.
O que existe são segundos na TV. Ou seja, os abraços, os tapinhas, a feijoada com direito a cenas públicas de afagos nos jardins impostos a (e imediatamente aceitos por) Lula em troca do apoio de Maluf à candidatura de Haddad seriam uma versão eleitoral do teste do sofá.
Há quem diga que, ao longo da história da televisão brasileira (quiçá do mundo, quiçá do cinema internacional), muitas mulheres lindas, com ou sem talento, precisaram submeter-se ao famoso teste do sofá, oferecendo seus encantos a algum diretor ou chairman poderoso das emissoras para, assim, obter oportunidade e espaço na telinha.
Pois bem, esta campanha eleitoral que se aproxima será uma campanha antecedida e marcada pelo ‘teste do sofá’, onde alhos e bugalhos estão se misturando sem qualquer pudor desde que sentar no sofá do ex-opositor signifique uns segundinhos a mais no horário eleitoral gratuito.
Cinismo - Foi isso que Lula foi fazer com Haddad na mansão de Maluf: o teste do sofá. Em troca dos preciosos tempinhos do partido de Maluf na TV no horário eleitoral gratuito. Do mesmo modo, por aqui, na Bahia, o DEM também apelou para a mesma estratégia assediando o Partido Verde e uma militante dos movimentos sociais da periferia e do movimento negro.
Se um dia o DEM de ACM Neto já contestou juridicamente as cotas raciais na universidade e agora tem como vice Célia Sacramento, uma árdua defensora das cotas, os antagonismos entre ambos, como diria Maluf, não mais importam. O que importa são os preciosos segundos na TV que o casamento político do DEM com o PV proporciona à campanha eleitoral.
E na onda do teste, o cinismo se espraia sem qualquer resquício de pudor. O próprio ex-presidente Lula, ao posar com a presidente Dilma durante a Rio+20, dois dias após posar com Maluf e um dia após a ressaca política de ver a vice do seu candidato, a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, recuar da chapa alegando repulsa às imagens da véspera, saiu-se com um trocadilho infame.
Referiu-se à foto com Dilma como sendo ambientalmente correta, numa oposição à politicamente incorreta, literal, com Maluf. No mesmo evento, o governador da Bahia, Jaques Wagner, também se sentindo confortável no posto de piadista experimental disse que em tempos de Rio+20 era preciso ver a aliança com Maluf num contexto em que sustentabilidade pressupõe não exterminar qualquer espécie [política]. Muito engraçado, governador. Além disso, para Wagner, para vencer as eleições em São Paulo vale o esforço de aliar-se a Maluf.
‘Meu garoto’! - Entre o teste do sofá visando a campanha eleitoral na TV, que logo entrará nos lares brasileiros assustando o telespectador que tiver estômago para assisti-lo, e as imagens de Lula no bunker malufista, a cena mais tradutora da canastrice bufa do encontro talvez seja a de Paulo Maluf passando a mão nos cabelos recém-cortadinhos de Haddad.
Vista na TV e nos jornais a imagem parecia pedir desesperadamente uma legenda. Poderiam ter tomado-a emprestada do bordão de um dos personagens antológicos de Chico Anísio. Quem não lembra da dupla de palhaços Cascata (Chico) e Cascatinha (Castrinho), cujo bordão era: ‘meu pai-pai!; meu garoto!’? À luz da imagem, Maluf transformou Haddad no garoto de Maluf.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 24 de junho de 2012, no jornal A Tarde, Caderno 2, p. 05, Salvador/BA.